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A Europa e os Refugiados Afegãos

Atualizado: 15 de set. de 2021


Afegão no aeroporto de Cabul em 16 de agosto de 2021, a espera de deixar o país. (Foto de Wakil Kohsar-AFP)


Resumo


Depois de duas décadas o grupo extremista, Talibã, recuperou o poder no Afeganistão, após tomar a capital do país, Cabul. Essa mudança governamental acompanha inúmeras consequências e desdobramentos no cenário internacional. Um dos resultados mais expressivos e que mais preocupam as nações, sobretudo o continente Europeu, é a possível crise dos refugiados caso medidas urgentes não forem tomadas. A Europa teme que possa acontecer algo similar ao que ocorreu em 2015, com a crise dos refugiados da Síria, momento esse que alguns países, como a Alemanha, receberam cerca de um milhão de refugiados. No contexto atual, líderes europeus como a chanceler alemã Angela Merkel estão cogitando a possibilidade de maiores investimentos para países vizinhos ao Afeganistão, que também sofrem com essa onda imigratória e possuem menos recursos, como o Paquistão.



Contexto do Afeganistão


O século XX foi palco dos mais extremos e catastróficos eventos, desde as duas grandes guerras, passando por inúmeras revoluções e golpes de Estado, até os embates ideológicos travados entre Estados Unidos da América (EUA), que defendia o sistema capitalista e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), que defendia o Socialismo na infame Guerra Fria, guerra essa que as potências que lideravam não travaram um embate diretamente entre elas, mas usaram o resto do globo como peões para seus interesses. O Afeganistão era um desses peões.

Em 1979 a União Soviética invade o Afeganistão, com a intenção de colocar o país sobre seu domínio ideológico. Para que isso não acontecesse, os EUA apoiaram diversas facções, grupos de resistência afegã que viam o marxismo e a URSS com maus olhos. A invasão Soviética durou cerca de 10 anos, quando, em 1989, eles batem em retirada.

No entanto, não foi nesse ano que os afegãos puderam contemplar a paz, pois era o momento de decidir quem conseguiria o poder, quem iria mandar. Inicia então, uma guerra civil entre as facções, o conflito é sangrento e chega ao ponto de destruir a capital Cabul. O Talibã sai vitorioso e inicia seu primeiro governo no Afeganistão, em 1996.

Com o Talibã no poder, a violência e o terror começam a tomar as ruas. Opositores são perseguidos, mulheres são privadas dos direitos mais básicos e elementares ao ser humano, como a liberdade. Vale ressaltar que o grupo extremista não representa o Islã, mas é uma pequena parte radical e extremista que interpreta as leis islâmicas da sua maneira. Contudo, mesmo com todos os abusos cometidos pelo Talibã sendo amplamente divulgados, o grupo só é deposto em 2001 após a invasão dos EUA.



A invasão dos Estados Unidos


Muitos grupos fundamentalistas islâmicos, entre eles a Al-Qaeda, atribuíam seus infortúnios econômicos e o não desenvolvimento da região aos países ocidentais, sobretudo os EUA. Como já foi explanado neste texto, os EUA interferiram fortemente no oriente com intenções claras de colocar a região e pontos estratégicos sob sua influência. Para os fundamentalistas islâmicos, essa interferência precisava acabar de alguma forma, então, para aplicar a política do medo e afastar o inimigo, o grupo terrorista Al-Qaeda, com Osama Bin Laden na liderança, assume a culpa pelo atentado mais famoso deste século. O atentado às Torres Gêmeas, que ocorreu no dia 11 de setembro de 2001, no edifício que simbolizava o máximo do centro financeiro capitalista global, o World Trade Center.

O atentado tirou a vida de quase 3 mil pessoas. O momento pedia uma reação rápida da maior potência do planeta. George W. Bush, que era o então presidente em exercício iniciou o famoso e o mais longo conflito travado pelos EUA, a guerra do Afeganistão. A invasão tinha como objetivo tirar o Talibã do poder, pois os talibãs estavam oferecendo refúgio para Osama Bin Laden e outros integrantes da Al-Qaeda. Em poucos dias, os EUA fizeram os soldados do Talibã fugirem para as montanhas do Afeganistão, onde permaneceram até a retomada do poder.



Imigrantes buscam refúgio na Europa


Com a chegada do grupo extremista na capital do Afeganistão (Cabul), muitos afegãos entram em desespero ao ponto de algumas pessoas enxergarem como a única saída possível se agarrar com todas as forças nos aviões militares estadunidenses, como uma tentativa a qualquer custo de escapar do regime extremista. Nessas circunstâncias, diversos países começam a preparação para receber esses milhares de refugiados, que vão buscar vida e liberdade em outras pátrias.

Uma das regiões que mais recebem imigrantes, é a Europa. Países europeus discutem como vão resolver essa questão tão urgente. Embora a União Europeia (UE) esteja em contato constante com o grupo Talibã, com objetivos funcionais de tirar do país todos os refugiados que possam sofrer retaliações do novo regime extremista, a presidente do grupo Ursula von der Leyen já pronunciou que a UE não vai reconhecer o novo governo.

Além do não reconhecimento, líderes europeus pediram que os EUA mantivessem suas tropas por mais tempo. Os EUA, definiram a retirada dos seus militares até o dia 31 de agosto, para diversos países europeus, esta data era muito próxima, fora dos planejamentos operacionais para conseguirem concluir a missão de tirar os refugiados do país. No entanto, o presidente estadunidense Joe Biden anunciou que a data permaneceria, pois segundo ele, deixar as tropas estadunidenses por mais tempo no Afeganistão poderia colocá-las em perigo de ataques dos fundamentalistas islâmicos. Este receio do presidente dos EUA não estava de todo errado, pois no dia 26 de agosto ocorreu um ataque terrorista orquestrado pelo Estado Islâmico no aeroporto de Cabul, o atentado matou mais de 100 pessoas, entre elas 13 militares norte-americanos. No dia 30 de agosto, os EUA retiraram seu último avião do Afeganistão, mantendo o prazo defendido pelo presidente.



As reações dos países europeus


A questão dos refugiados afegãos gera os mais acalorados debates entre os países europeus. A chanceler alemã, Angela Merkel, propôs que a Alemanha pode ajudar com auxilio os países vizinhos ao Afeganistão, pois eles também vão receber refugiados e precisam de recursos. Já o presidente francês, Emmanuel Macron, afirmou em discurso que a França iria receber todos os aliados que contribuíram com o país. Contudo, outros países não mostraram tal receptividade, como a Grécia que trabalhou para terminar o muro que já estava em construção, com a intenção de barrar uma onda imigratória no país. Outra nação que fechou as fronteiras para a crise, foi a Áustria, que defendeu a deportação dos imigrantes.

Portanto, fica claro que a Europa está dividida em relação a imigração, mas é importante salientar, que essa divisão não é a mesma de 2015, quando o continente passou pela crise imigratória da Síria, momento que diversos países do bloco eram mais receptíveis e nações como a Alemanha, foram mais acessíveis aos refugiados. Em 2015, muitas críticas foram feitas às políticas de facilitação da imigração, além disso, xenófobos e grupos, partidos e políticos da extrema direita ganharam mais visibilidade justamente por assumirem uma postura mais dura sobre a questão.



Conclusão


O Talibã que reconquistou o poder no Afeganistão busca transpor uma imagem de moderação, no entanto, ainda pouco se sabe do quanto o grupo realmente está moderado. Neste sentido, o futuro de todas as pessoas que vivem nas terras afegãs está incerto.

Consequentemente, os países europeus buscam planos e alternativas de amenizar as atrocidades e crimes que já estão sendo cometidos pelo grupo extremista. Justamente por essas incertezas do que está por vir após o fatídico 31 de agosto, data que os EUA retiram suas tropas, é possível prever que a onda imigratória e as incertezas perante esta crise aumentem e novas medidas sejam aplicadas.



Referências Bibliográficas


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