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Análise da Crise Ucraniana


VEJA. 2014


Introdução


O intuito do texto é fazer uma análise de conjuntura da guerra civil ucraniana, utilizando os conceitos de análise de conjuntura apresentados por Herbert José de Souza. Além de apresentar a história do conflito, sua origem, principais acontecimentos e atores e seus respectivos interesses.



Metodologia

Para darmos início a análise, precisamos primeiramente esclarecer os principais elementos metodológicos, sendo assim, De acordo com Souza (1984), os acontecimentos são aqueles que se diferem dos fatos comuns, ou seja, acontecimento é um incidente que tem impacto ou influência direta no propósito da análise. O cenário, por sua vez, é o ambiente no qual o objeto de análise se desenvolve, vale ressaltar que, o cenário pode influenciar o objeto de análise. Os atores são aqueles que possuem papel ativo no objeto de análise podendo influenciar diretamente em sua trajetória, e por último, a relação entre estrutura e conjuntura, Souza (1984) relaciona a estrutura com a história, ou seja, algo com um grande período de tempo, que acumula fatos anteriores ao objeto de análise enquanto a conjuntura corresponde a um período de tempo mais curto e estreito que incluí os demais elementos descritos acima. A partir desse conceito podemos traçar uma semelhança entre a estrutura e conjuntura e o conceito de macro e micro, a estrutura refere-se ao macro onde analisa um grande período de tempo e diversos acontecimentos que podem ter acontecido antes ou concomitantemente com o objeto de análise e não necessariamente tem relação direta com o objeto, já o micro refere-se a conjuntura que analisa um período de tempo estreito e com um propósito delimitado onde os acontecimentos e as demais variáveis que influenciaram o objeto de análise já foram muito bem delimitados.


Ainda em meio da crise sociopolítica ucraniana, o país ainda sofreu corte de fornecimento de gás natural da principal empresa russa, que abastece toda a Europa. Com o afastamento da União Europeia, a Ucrânia perderia também o privilégio estabelecido por um acordo entre as nações da Europa e do governo russo de fornecer o gás natural, principal combustível utilizado até mesmo em ambientes domésticos e que ajuda a preservar os lares do frio intenso, a um preço amigável. Mesmo com o distanciamento entre a Ucrânia e os demais países, o fornecimento do combustível natural manteve-se com desconto a desejo de Vladmir Putin, pois o território ucraniano é caminho para os túneis de gás que abastecem toda a Europa.

A partir deste cenário, as revoltas populares pré-existentes na Crimeia deixam de ser apenas pela adesão à União Europeia e pela afiliação russa, mas passam também a retratar uma represália às ações do presidente e favoráveis à saída do presidente Yanukovich.



Análise da Crise Ucraniana


Utilizando os conceitos descritos acima, os principais acontecimentos para a crise são a não assinatura do Acordo de Parceria Oriental, a repressão violenta das forças policiais ucranianas, a anexação da Crimeia, as manifestações populares pró e anti-rússia e o conflito que se estende até hoje. Os principais atores são, Rússia, Ucrânia, União Europeia e EUA, além disso, devemos ressaltar os polos desse conflito, a União Europeia e os EUA representam o este ou Ocidente e carregam consigo diversos princípios democráticos, seus governantes possuem estratégias similares em relação a contenção da Rússia. Através de suas organizações, como a OTAM e a própria União Europeia, o Ocidente assedia países do leste europeu, oferecendo a eles pacotes de associação com intuito de aproximá-los ao Ocidente e, consequentemente, afastá-los da órbita de influência da Rússia. O outro polo, corresponde à Rússia, que interpreta negativamente a ofensiva do oeste em países que pertenciam à antiga URSS ou que fazem fronteira direta com os territórios russos. A Ucrânia, por sua vez, além de ser um ator ativo no conflito, também é o palco do mesmo, é o ambiente onde a trama se desenvolve, acontecendo na parte leste de seu território e com sua população agindo de forma ativa no conflito, tendo parte da mesma apoiando a aproximação com o oeste e desejando que o país busque se aproximar e se adaptar a esses princípios democráticos, enquanto, uma outra parte, que possui laços profundos com a Rússia, deseja que o país não se aproxime do oeste, e sim do leste, permanecendo na órbita de influência russa. Em relação a estrutura e conjuntura, utilizando a interpretação de macro e micro, o macro podemos ressaltar fatos importantes que influenciaram, de forma indireta, desde a independência da Ucrânia no começo da década de 90, até as Revoluções das cores em meados da primeira década dos anos 2000. A conjuntura, micro, abrange o período de final de 2013 desde o início dos protestos até o período atual, o conflito no leste europeu é uma consequência da tentativa de ocidentalização da Ucrânia. O Ocidente, busca assimilar os países do leste europeu com o intuito de minar a influência russa nesses países e também, principalmente através da OTAN, busca estabelecer aliados próximo ao território russo com intuito contenção mais eficiente dessa potência. Para a Rússia, é importante impedir que estas organizações internacionais ou blocos de integração regional aumentem sua área de ação para territórios fronteiriços, na Geórgia em 2008 quando essa aproximava-se de um acordo de parceria estratégica com a OTAN, os russos passaram a fomentar rebeldes separatistas na região da Ossétia do Sul e de Abecásia. O conflito na Geórgia, assim como na Ucrânia, impossibilitou a aproximação desses países com o Ocidente.


Crise ucraniana A crise ucraniana teve início no final do ano de 2013, após o presidente eleito Viktor Yanukovych não assinar um Acordo de Parceria Oriental com a União Europeia. Este acordo foi oferecido a vários países do leste europeu, com o intuito de associar esses países economicamente e politicamente com a União Europeia. Através de pressões políticas e benefícios econômicos, o governo russo conseguiu persuadir o Yanukovich a não assinar o acordo com a EU, o que gerou uma grande revolta na juventude ucraniana e na porção da população com viés anti-russo, levando-os à praça central da cidade de Kiyv. Os protestos duraram por meses com repressões governamentais sangrentas, que ocasionaram em centenas de mortos, até que o presidente renunciou em fevereiro de 2014 e fugiu com auxílio russo. Ainda no mês de fevereiro a Rússia invade a península da Crimeia, território Ucraniano, e patrocina um referendo que visa identificar o desejo da população de se separar da Ucrânia e se tornar território russo, e com uma população majoritariamente descendente de russos ou com viés pró-rússia, o resultado do referendo foi positivo. O referendo tinha como objetivo garantir legitimidade e servir como justificativa da anexação do território, isso levou a União Europeia a adotar sanções contra a Rússia que se estendem até os dias atuais. Além da absorção ilegal da Crimeia, os russos passaram a fomentar separatistas no leste ucraniano através do fornecimento de armamentos e munições. As áreas de atuação dos rebeldes abrangem grande parte do leste ucraniano (as principais cidades são Donetsk, Lugansk e Mariupol). Vale ressaltar que essas áreas possuem uma grande população com viés pró-rússia. Assim como na Crimeia, o objetivo dos rebeldes é a secessão dessa parte do território e juntar-se ao território russo, envolvendo assim, a Ucrânia em um conflito que dura até os dias de hoje.


Conclusão


O Ocidente busca aproximar-se dos países do leste europeu, mas não a qualquer custo, não é de interesse de nenhum desses países um conflito direto com a Rússia, principalmente para os estados-membros da União Europeia que são dependentes do gás oriundo das terras russas, que alimenta o sistema de calefação europeu durante os invernos rigorosos. Já os russos, perceberam que quando geram instabilidade através dos conflitos sem fim, acabam por afastar o Ocidente ou geram limitações às ações desses países. Sendo assim, o futuro mais provável para o conflito ucraniano é a continuidade, a Rússia não irá permitir o avanço dessas organizações sobre os territórios que fazem fronteira com o seu e continuará a fomentar conflitos no território ucraniano, prolongando-a o máximo possível, como forma de defesa da sua área de influência e do seu próprio território, enquanto houver conflitos a OTAN e a União Europeia permanecerão relutantes a dar continuidade na aproximação com esses estados. Outro indício da conservação do conflito é que no governo russo, existe a possibilidade de não haver alternância do representante do executivo, o que indica uma possível perpetuidade da política de defesa da esfera de influência e de território, enquanto no Ocidente, por mais que os governantes sejam alterados, a abordagem utilizada será parecida, e tende a dar seguimento a estratégia perante os países do leste. A resolução menos provável para esse conflito é uma mudança na política de defesa russa ou uma guerra direta entre o Ocidente e a Rússia. Uma vez que, para os russos a manutenção de seu território e de sua influência nos territórios “tampões”, esses territórios referem-se a os territórios que separam a Rússia dos membros da OTAN e UE, é uma questão de extrema importância para a sobrevivência russa. E para o Ocidente, declarar uma guerra contra a Rússia é contraproducente, tendo em vista que, o monopólio do gás utilizado no sistema de calefação é oriundo da Rússia, e uma guerra poderia alterar o comércio dessa fonte de energia de extrema importância para os europeus.




Referências Bibliográficas


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