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Atleta afegã é decapitada pelo Talibã: Entenda a perseguição contra mulheres esportistas.





RESUMO


O artigo investiga o assassinato da jogadora de vôlei afegã, que foi decapitada pelo Talibã na última semana, abordando a ameaça contra a segurança e os direitos fundamentais das mulheres do Afeganistão, dando ênfase para a situação das atletas. O novo regime do grupo extremista retomou as restrições mais tradicionais do islamismo vetando a prática de esportes para as mulheres e perseguindo jogadoras de diversas modalidades que outrora fizeram parte das seleções esportivas do país.



INTRODUÇÃO


A recente tomada do poder no Afeganistão por parte do grupo fundamentalista Talibã vem gerando preocupações em diversas categorias, dado seu caráter brutal e violento amplamente temido desde 1996, quando o grupo exerceu seu primeiro regime no país. O presente artigo aborda especificamente a perseguição sofrida pelas esportistas afegãs, que vem sendo violentamente reprimidas desde que o Talibã proibiu a prática de esportes por mulheres em qualquer modalidade.

No dia 21 de outubro, foi divulgada a morte da atleta afegã Mahjabin Hakimi, decapitada pelo Talibã por ter se recusado a obedecer às regras do regime extremista. Visando compreender o cenário que propiciou tal crueldade, investiga-se o desrespeito contra os direitos das mulheres no primeiro regime de poder do Talibã e as possíveis implicações no regime atual, devido à retomada de uma interpretação mais tradicional do Islã. Aborda-se a situação do esporte para as seleções femininas do país, expondo as declarações e justificativas por trás do veto, a perseguição sofrida pelas atletas e a lamentável condição que as obrigam a viver como fugitivas em seu próprio país.

No geral, o artigo pretende elucidar como o regime talibã compromete a segurança e rompe os direitos fundamentais das mulheres afegãs, através do assassinato da jogadora da seleção júnior de vôlei, Mahjabin Hakimi, que evidencia a violência que ameaça a vida das esportistas do país.



TALIBÃ E O DESRESPEITO CONTRA MULHERES


Em agosto de 2021 o Afeganistão iniciou mais uma era sob o controle do Talibã, desde então o país vem refletindo comportamentos semelhantes aos que marcaram o primeiro regime do grupo fundamentalista. A repressão dos direitos das mulheres, que foram arduamente conquistados nos últimos anos, tem sido uma das maiores preocupações debatidas pela comunidade internacional. Isto porque, quando o Talibã assumiu o poder em 1996, o acesso das mulheres ao emprego e à educação foi negado. As afegãs só podiam sair de casa acompanhadas por um familiar do sexo masculino e o uso de burcas que cobrissem todo o seu corpo era obrigatório, além disso, o descumprimento de tais regras resultava em punições severas. Ou seja, a perspectiva de um poder que legitime tais brutalidades contra a população feminina se justifica dado o histórico de violência que o primeiro regime representou.

Enquanto a conquista dos direitos fundamentais para as mulheres afegãs foi lenta e árdua, tendo passado por inúmeros desafios durante a transição de um islã tradicional para uma interpretação mais moderna que concedesse liberdade e possibilidades para a população feminina, a perda deles foi brutal e abrupta durante o primeiro regime e a retomada dos direitos em 2001, quando o primeiro regime caiu, representou outra longa jornada de luta por conquistas básicas. Desde o começo da invasão Talibã, a intenção de retornar às interpretações conservadoras da Sharia (a lei islâmica) e a tentativa de limitar a presença das mulheres na esfera doméstica se mostrou clara e as ações do grupo até o momento têm ilustrado tal intenção.



PERSEGUIÇÃO CONTRA AS ATLETAS AFEGÃS


Uma das áreas que já está sofrendo com as temidas censuras, é a esportiva. O Talibã estabeleceu um veto que proíbe as mulheres de praticarem esportes e apesar dos inúmeros questionamentos e contestações o veto vem sendo mantido. Depois de 2001, quando o Afeganistão se viu livre do Talibã pela primeira vez, houve uma tentativa de erguer a participação das mulheres na sociedade, nos estudos e nos esportes. A partir dessa iniciativa, diversas seleções femininas foram formadas em inúmeras modalidades esportivas, entretanto, a recente decisão de restringir a prática esportiva aos homens representou o fim dessa conquista.

Quando questionado a respeito da decisão, Ahmadullah Wasiq, um dos líderes do Talibã, declarou que o esporte feminino é inapropriado e desnecessário. Em relação ao críquete, um dos esportes mais estimados da região, houve particular relutância feminina em abandonar a prática, porém, quando apelaram ao Talibã, a resposta dada por Wasiq foi: “Eu acho que não será permitido às mulheres jogar críquete porque não é necessário que as mulheres joguem críquete. No críquete, elas podem estar em situações em que o rosto e o corpo delas não estejam cobertos, e o Islã não permite que elas sejam vistas dessa forma” (SBS News, 2021). O líder também ressaltou que o esporte feminino é transmitido através da mídia e quem desejar acompanhar pode simplesmente assistir as seleções de outros países, pois, o Islã e o Emirado Islâmico não permitem que as mulheres se exponham durante práticas esportivas (SBS News, 2021).

Ainda que as restrições por si só já sejam um desrespeito aos direitos das mulheres, o mais preocupante tem sido o risco à segurança das esportistas afegãs que vem sofrendo demonstrações de violência cada vez mais explícitas, a fim de desestimular possíveis atos de resistência contra as normas.



JOGADORA DE VÔLEI É DECAPITADA POR GRUPO FUNDAMENTALISTA


Segundo a FIFPRO (Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol), em 24 de agosto, a seleção afegã de futebol feminino, juntamente com os seus familiares, recebeu ajuda do governo australiano para deixarem o país, pois, estas temiam a perseguição do regime talibã. Ainda assim, diversas atletas que não conseguiram deixar o Afeganistão continuam vivendo escondidas e com medo de represálias.

Os temores infelizmente se tornaram concretos quando no início de outubro a jogadora da seleção júnior de vôlei, Mahjabin Hakimi, foi decapitada pelo Talibã ao se recusar a obedecer às regras estabelecidas pelos extremistas. A morte foi divulgada no dia 21 de outubro durante uma entrevista com o técnico da atleta que divulgou que a família da Hakimi já vinha sofrendo ameaças de integrantes do Talibã há um tempo. A matéria divulgada no jornal Persian Independent informava que a morte demorou a ser divulgada por “questões de segurança” e a família se manteve em silêncio por medo de sofrer retaliações.

Acredita-se que a atleta foi assassinada por ter sido pega praticando o esporte sem usar hijab (véu) e por ser Hazara, um povo de origem mongol que é perseguido pelo Talibã. O técnico em sua entrevista afirmou que todas as jogadoras do time estão com a segurança comprometida, as atletas estão escondidas com seus familiares e até o momento apenas duas jovens conseguiram deixar o país através de ajuda emergencial humanitária (O Tempo, 2021).



CONCLUSÃO


Embora o Afeganistão tenha lutado pela retomada da participação feminina na sociedade, na educação e no esporte desde 2001, quando o último regime talibã se encerrou, nota-se que a retomada do grupo extremista ao poder visa implementar as mesmas normas tradicionais que comprometem a segurança e a liberdade das mulheres em 1996. Enquanto o Talibã se baseia na visão islâmica que restringe a mulher ao espaço doméstico e limita a exposição corporal através de regras cujo descumprimento implica diretamente em punições severas, a condição de vida a qual a população feminina está sendo submetida vem despertando preocupação em escala global.

A área esportiva tem sofrido com as restrições impostas pelo novo regime e o assassinato da jogadora de vôlei evidenciou que o medo e o desespero das atletas, que tentam desesperadamente deixar o país desde que o Talibã assumiu o controle, são mais do que justificáveis. Vivendo como fugitivas em seu próprio país, a situação das atletas afegãs é crítica e o apelo por ajuda emergencial humanitária é crescente.

A decapitação de Hakimi solidificou a ameaça contra a vida das mulheres cuja atividade profissional se baseia na prática de esportes e expôs a punição brutal que será aplicada contra quem resistir ao novo regime.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


GLOBO. Afeganistão: como era a vida das mulheres antes do Talibã. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/09/06/afeganistao-como-era-a-vida-das-mulheres-antes-do-taliba.ghtml. Acesso em: 23 out. 2021.

GLOBO. Jogadora de vôlei decapitada pelo Talibã: veja outros casos de perseguição a mulheres esportistas no Afeganistão. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/22/jogadora-de-volei-decapitada-pelo-taliba-veja-outros-casos-de-perseguicao-a-mulheres-esportistas-no-afeganistao.ghtml. Acesso em: 23 out. 2021.

GLOBO. Jogadora de vôlei do Afeganistão morre decapitada por não seguir regras do Talibã, diz jornal. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/10/21/jogadora-de-volei-do-afeganistao-morre-decapitada-por-nao-seguir-regras-do-taliba-diz-jornal.ghtml. Acesso em: 23 out. 2021.

O TEMPO. Jogadora de vôlei é decapitada pelo Talibã por não usar hijab, diz jornal. Disponível em: https://www.otempo.com.br/mundo/jogadora-de-volei-e-decapitada-pelo-taliba-por-nao-usar-hijab-diz-jornal-1.2558907. Acesso em: 23 out. 2021.

REVISTA OESTE. Jogadora de vôlei do Afeganistão é decapitada pelo Talibã, diz jornal. Disponível em: https://revistaoeste.com/mundo/jogadora-de-volei-do-afeganistao-e-decapitada-pelo-taliba-diz-jornal/. Acesso em: 23 out. 2021.

REVISTA OESTE. Talibã mantém veto a mulheres para a prática de esportes. Disponível em: https://revistaoeste.com/mundo/taliba-mantem-veto-a-mulheres-para-a-pratica-de-esportes/. Acesso em: 23 out. 2021.

SBS NEWS. Taliban say women won't be allowed to play sport. Disponível em: https://www.sbs.com.au/news/taliban-say-women-won-t-be-allowed-to-play-sport/3d58c3c9-9ffd-4f13-98e7-b1ecfe9ce2df. Acesso em: 23


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