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DESARMAMENTO NUCLEAR E DIPLOMACIA: O LEGADO DE HIROSHIMA E NAGASAKI, E AS QUESTÕES ATUAIS.

Atualizado: 16 de ago. de 2024

(Kyodo/via Reuters apud FRANCE PRESSE, 2024).

RESUMO 


Em agosto de 2024, o Japão celebrou o 79º aniversário do bombardeio atômico em Hiroshima com uma cerimônia significativa, destacando a necessidade de um mundo livre de armas nucleares. O primeiro-ministro Fumio Kishida e o governador Hidehiko Yuzaki enfatizaram a urgência da eliminação de armas nucleares. A cerimônia, marcada pela presença de cerca de 50 mil pessoas, incluindo embaixadores e líderes internacionais, incluiu momentos de reflexão e discursos sobre os conflitos atuais, como o entre Israel e Palestina. A exclusão de Israel da cerimônia em Nagasaki gerou controvérsia e reações internacionais, refletindo as complexidades da diplomacia global e os desafios no avanço do desarmamento nuclear.

 

Palavras-chave: Hiroshima; Nagasaki; Armas Nucleares; Cerimônia; Diplomacia;

 


A CERIMÔNIA


(ANGELIS, 2024).

  No dia 6 de agosto deste ano, o Japão marcou o mundo no cenário internacional mais uma vez ao relembrar o bombardeio atômico dos Estados Unidos em Hiroshima, em seu 79º aniversário (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).


Vale lembrar que esse acontecimento ocorreu em 6 de agosto de 1945, matando 80 mil pessoas pela ativação da arma nuclear. Posteriormente, houve um aumento de 75% no número de mortes ao comparar com os primeiros números, devido aos efeitos da radiação proporcionados pela arma atômica (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).

 

Durante a cerimônia, o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, fez pedidos por um mundo livre de armas nucleares, em meio ao cenário internacional atual (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).

 

“Enquanto existirem armas nucleares, elas certamente serão usadas novamente algum dia”, afirmou o governador Hidehiko Yuzaki. “Em vez disso, é uma questão urgente e real, na qual devemos nos engajar desesperadamente neste momento, já que as ações nucleares envolvem um risco iminente à sobrevivência humana”, reiterou o mesmo (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).

 

A cerimônia contou com aproximadamente 50 mil pessoas, incluindo embaixadores de diversos países, todos presentes no Parque Memorial da Paz de Hiroshima, local da cerimônia (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).

 

Coroas de flores foram postas em exibição na cerimônia, com a ajuda do primeiro-ministro e do prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui. “A paz mundial depende da eliminação das armas nucleares”, enfatizou o primeiro-ministro (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).

 

O mesmo aproveitou para expor algumas palavras sobre a situação atual da Rússia e Ucrânia, assim como sobre Israel e Hamas. “Essas tragédias globais estão aprofundando a desconfiança e o medo entre as nações, reforçando a suposição pública de que, para resolver problemas internacionais, temos que confiar na força militar, o que deveríamos rejeitar”, disse o prefeito (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).


Aqueles presentes na cerimônia, às 8:15, ouviram o sino que marcava o momento em que o bombardeio ocorreu, produzindo um silêncio em respeito ao evento passado (OKAMOTO, 2024; REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024; WELLE, 2024).

 

ISRAEL E PAÍSES DO OCIDENTE


(AFP apud LIES, 2020).

Todos os anos, representantes são chamados e convidados para participar das cerimônias que ocorrem tanto em Hiroshima quanto em Nagasaki (três dias após a cerimônia de Hiroshima), a fim de reforçar a importância da organização em busca da paz e pelo fim das armas atômicas (LAU, KATSURA, TONSHO, 2024).

 

Mas, desta vez, em contexto à atual situação de Israel, muitos, até mesmo políticos japoneses, foram contra a ideia de enviar um convite para representantes de Israel. Apesar das apelações, o desejo de excluir Israel da cerimônia foi negado, destacando as palavras de Kunihiko Sakuma, presidente do Hiroshima Hidankyo: “Como uma cidade de paz internacional, Hiroshima precisa convidar todas as nações, independentemente de estarem em guerra ou não” (LAU, KATSURA, TONSHO, 2024).


(Kyodo/Reuters via CNN Newsource apud LAU; ASSADA, 2024).

  Desta forma, o convite a Israel e a justificativa por parte do Japão provocaram estranhamento entre os representantes palestinos, que demonstraram sua indignação ao afirmar que “Esta decisão é um padrão duplo”, visto que nunca um representante palestino havia sido convidado antes (LAU, KATSURA, TONSHO, 2024).

 

Em resposta, a Ministra das Relações Exteriores do Japão, Yoko Kamikawa, afirmou: “Continuamos a considerar de forma abrangente o reconhecimento do Estado palestino, levando em consideração como avançar o processo de paz” (LAU, KATSURA, TONSHO, 2024).

 

Contudo, em contraste com as decisões de Hiroshima, na cerimônia em Nagasaki houve a aceitação das pressões para a exclusão de Israel. Assim, para manter um entendimento entre os países, o prefeito de Nagasaki explicou a situação ao dizer que a retirada do convite a Israel não se dava por questões políticas, mas sim por segurança, destacando a dificuldade da decisão. “Gostaria de sublinhar que esta decisão não se baseou em considerações políticas, mas sim no nosso desejo de realizar a cerimônia em homenagem às vítimas dos bombardeios atômicos numa atmosfera pacífica e solene, e de garantir que a cerimônia decorra sem problemas”, disse o mesmo (MONTGOMERY, SURI, KATSURA, LAU, 2024; ASADA, LAU, 2024; PREVIDELLI, 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024).

 

Como resposta, o embaixador de Israel no país apresentou sua opinião, afirmando que Israel está exercendo todo o seu direito e obrigação moral de defender a si mesmo e aos seus cidadãos e continuará a fazê-lo. “Não há comparação entre Israel, que está sendo brutalmente atacado por organizações terroristas, e qualquer outro conflito. Qualquer tentativa de apresentá-lo de outra forma distorce a realidade”, reafirmou também que a luta que ocorre não é contra a população palestina, mas sim contra o Hamas (MONTGOMERY, SURI, KATSURA, LAU, 2024; ASADA, LAU, 2024; PREVIDELLI, 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024).

 

Com esta ação, alguns países do Ocidente fizeram observações quanto à exclusão de Israel. Essas questões foram previamente apontadas em uma carta enviada em julho ao prefeito, que afirmava que “Se Israel fosse excluído, seria difícil para nós ter participação de alto nível neste evento”. A carta foi assinada por representantes de países como Alemanha, EUA, França, Canadá, Itália, Reino Unido e União Europeia (MONTGOMERY, SURI, KATSURA, LAU, 2024; ASADA, LAU, 2024; PREVIDELLI, 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024).

 

Deste modo, Alemanha, Itália, Canadá e Grã-Bretanha decidiram não enviar representantes à cerimônia, assim como os EUA, que decidiram também não enviar um embaixador a Nagasaki, ao afirmarem que a escolha de Nagasaki por retirar Israel da cerimônia estava sendo feita por motivos políticos (MONTGOMERY, SURI, KATSURA, LAU, 2024; ASADA, LAU, 2024; PREVIDELLI, 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024).

 

Por fim, o prefeito de Nagasaki afirmou que pretende utilizar futuras oportunidades para construir diálogos a fim de explicar sua decisão sobre Israel aos demais países que não compareceram à cerimônia (MONTGOMERY, SURI, KATSURA, LAU, 2024; ASADA, LAU, 2024; PREVIDELLI, 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024; NHK (JAPAN BROADCASTING CORPORATION), 2024).



IMPACTOS

 

O evento ocorrido em 1945 deixou marcas graves na história, cultura e sociedade do Japão. É possível perceber que as perdas não foram apenas estruturais, mas também em termos de vidas perdidas, provocando um grande trauma à sociedade como um todo, principalmente aos sobreviventes do bombardeio (REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024).

 

Assim, para que momentos e eventos como esses não se repitam, são realizadas anualmente estas cerimônias em lembrança às vidas perdidas e como um reforço à luta por um mundo sem armas nucleares, transformando-se em uma simbologia de paz e esperança ao mundo em prol de ações antinucleares (REDAÇÃO O ANTAGONISTA, 2024).


(Getty Images apud LAU, 2024).

Conclusão

 

A cerimônia de Hiroshima e a controvérsia envolvendo o convite a Israel refletem a complexidade e a importância contínua do debate sobre o desarmamento nuclear. Enquanto o mundo se lembra das atrocidades do passado, a luta pela eliminação das armas nucleares permanece uma prioridade global urgente. Os eventos recentes destacam a necessidade de uma abordagem mais unificada e diplomática para resolver conflitos e promover a paz.

 

A discussão sobre a inclusão de Israel na cerimônia de Nagasaki ressalta a delicada interação entre política internacional e esforços de paz, evidenciando como decisões aparentemente locais podem ter repercussões globais. À medida que a comunidade internacional enfrenta novos desafios e tensões, a lembrança das vítimas dos bombardeios atômicos e a busca por um mundo sem armas nucleares devem permanecer no centro das políticas e dos diálogos internacionais.


O fortalecimento das iniciativas de desarmamento e a promoção da paz exigem um compromisso contínuo e a colaboração de todas as nações. Apenas por meio de esforços conjuntos e da construção de confiança mútua será possível alcançar um futuro onde os horrores das guerras nucleares sejam apenas uma memória distante e a paz se torne uma realidade duradoura.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


ANGELIS, Andrea De. Japão: das feridas da bomba nuclear às expectativas das Paraolimpíadas: Após os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, o país se prepara para os Jogos Paraolímpicos, que serão realizados de 24 de agosto a 5 de setembro deste ano. Enquanto o Japão recorda os ataques nucleares de agosto de 1945. Entrevista com o missionário do Pime padre Andrea Lembo, há mais de 10 anos no país. [S. l.], 9 ago. 2024. Disponível em: https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2021-08/japao-paraolimpicos-nuclear-nagasaki-entrevista-pime.html. Acesso em: 15 ago. 2024.


ASADA, Yumi; LAU, Chris. Países ocidentais boicotam cerimônia em Nagasaki após exclusão de Israel: EUA denunciam decisão "política" em evento que marca bombardeio atômico. [S. l.], 8 ago. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/paises-ocidentais-boicotam-cerimonia-em-nagasaki-apos-exclusao-de-israel/. Acesso em: 13 ago. 2024.


FRANCE PRESSE. Japão recorda 73 anos do bombardeio nuclear de Hiroshima: Lançada em 6 de agosto de 1945, 'Little Boy' causou a morte de 140 mil pessoas no próprio dia e nas semanas seguintes; três dias depois, outra bomba atômica atingiu Nagasaki. 'Se a humanidade esquecer a história ou deixar de confrontar-se com ela, poderíamos voltar a cometer um erro terrível', afirmou prefeito em cerimônia.. [S. l.], 6 ago. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2018/08/06/japao-recorda-73-anos-do-bombardeio-nuclear-de-hiroshima.ghtml. Acesso em: 15 ago. 2024.


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LAU, Chris. Israel critica falta de convite para cerimônia de paz de Nagasaki: Embaixador israelense afirma que organizadores inventaram desculpas para deixar país de fora das celebrações. [S. l.], 5 ago. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/israel-critica-falta-de-convite-para-cerimonia-de-paz-de-nagasaki/. Acesso em: 15 ago. 2024.


LAU, Chris; KATSURA, Nodoka; TONSHO, Rinka. Japão convida Israel para cerimônia de promoção da paz mundial e gera protestos: Hiroshima reúne anualmente autoridades e moradores em um minuto de silêncio para marcar o ataque a bomba atômica dos EUA que matou dezenas de milhares de pessoas na Segunda Guerra Mundial. [S. l.], 20 jul. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/japao-convida-israel-para-cerimonia-de-promocao-da-paz-mundial-e-gera-protestos/. Acesso em: 13 ago. 2024.


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MONTGOMERY, Hanako; SURI, Manveena; KATSURA, Nodoka; LAU, Chris. Japão deixa Israel de fora da cerimônia em memória ao bombardeio de Nagasaki: Cidade alega questões de segurança em retirada de convite; Israel critica decisão. [S. l.], 1 ago. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/internacional/japao-deixa-israel-de-fora-da-cerimonia-em-memoria-ao-bombardeio-de-nagasaki/. Acesso em: 13 ago. 2024.


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PREVIDELLI, Fabio. EUA não enviarão embaixador para cerimônia dos 79 anos da bomba de Nagasaki: Após decisão do prefeito de Nagasaki, Estados Unidos optaram por não enviar embaixador para cerimônia pelas vítimas da bomba atômica em 9 de agosto de 1945. [S. l.], 8 ago. 2024. Disponível em: https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/historia-hoje/eua-nao-enviara-embaixador-para-cerimonia-dos-79-anos-da-bomba-de-nagasaki.phtml. Acesso em: 13 ago. 2024.


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WELLE, Deutsche. Japão recorda 79 anos de ataque nuclear contra Hiroshima: Governo de Hiroshima faz apelo por fim das armas nucleares em cerimônia que ocorre em meio à escalada de tensões globais. [S. l.], 6 ago. 2024. Disponível em: https://www.metropoles.com/mundo/japao-recorda-79-anos-de-ataque-nuclear-contra-hiroshima. Acesso em: 13 ago. 2024.


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