top of page

Hungria e a União Europeia Diante dos Direitos LGBTQI+


Besenyei, Gergely. 2021



Resumo


O governo húngaro aprovou no mês de junho, uma lei retrógrada para os direitos da comunidade LGBTQI+, causando incômodo na relação do país com os aliados da União Europeia. Neste artigo, se discutirá a lei aprovada, os direitos infringidos e as consequências dessa ação na relação dos países europeus.


Palavras-chaves: LGBTQI+, União Europeia, Direitos Humanos, Hungria, Viktor Orbán.



Introdução


Foi vigorada na Hungria uma lei que prevê “garantir a proteção dos direitos das crianças, conteúdos pornográficos e que retratem a sexualidade para seus próprios fins ou que promovam o desvio da identidade de gênero, redesignação de gênero e homossexualidade não devem ser disponibilizados para pessoas menores de 18 anos”. O projeto de lei foi aprovado pela maioria do Senado, com o apoio de 157 deputados e do primeiro-ministro, Viktor Orbán, a votação foi finalizada no dia 15 de junho e entrou em vigor no dia 08 de julho de 2021.

Apesar do apoio interno dos deputados e senadores, o projeto de lei foi muito criticado pelos representantes dos países da União Europeia. O governo húngaro divulgou a lei como um projeto contra a pedofilia e crimes que comprometem o desenvolvimento socioemocional das crianças, no entanto, para diversos grupos LGBT e para o próprio diretor da Amnistia Internacional na Hungria, Dávid Vig, a lei se trata da criminalização e “culpabilização da comunidade LGBT pelos crimes contra as crianças e equipara estes crimes ao amor consensual de duas pessoas”.

O governo de Viktor Orbán, que retornou em 2010, vem sendo cada vez mais controverso e autoritário, preocupando tanto os cidadãos húngaros quanto os aliados da União Europeia. Em 2018, a Hungria foi ameaçada pelos países da UE, que votaram em uma decisão quase unânime, uma vez que ameaçava constantemente os Direitos Humanos e tomava decisões antidemocráticas, como por exemplo as políticas que complicam o processo de imigração ao país.



Visão da União Europeia


A nova lei húngara não foi bem recebida pela União Europeia, pois considera-se que ela fere os Direitos Fundamentais da organização, como por exemplo, a dignidade, liberdade, igualdade e os Direitos Humanos.

A Presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, disse em um pronunciamento oficial que a lei contra “propaganda” LGBTQI+ é “uma vergonha” e que usará de todos os recursos possíveis, como líder da Comissão, para garantir os direitos de todos os cidadãos da União Europeia, já que a legislação fere os principais direitos e ideais garantidos pelo tratado assinado pelos países que compõem a UE.

O pronunciamento de Von der Leyen foi subsequente à uma carta assinada por 14 países da União Europeia, que está considerando descongelar o processo iniciado contra a Hungria em 2018, segundo o Artigo 7° do Tratado da União Europeia que “acolhe a possibilidade de sanções a um Estado membro por violação de valores básicos da União Europeia, como os Direitos Humanos ou o império da lei e pode implicar na perda dos direitos de voto no Conselho Europeu”. Assim, iniciou-se um referendo que está previsto para terminar em meados de 2022.

Gwendoline Delbos-Corfield, a eurodeputada representante do grupo dos Verdes considera que

“O aspecto protetor é uma parte pouco significativa da lei. O resto da lei, sobre impedir as crianças e adolescentes de ter acesso a informações sexuais normais, informações sanitárias normais é muito necessário e até mesmo informações para a própria construção individual. Informações normais muito simples são impedidas com esta lei. O aspeto de proteção da criança é mínimo."

Entre críticas e conspirações, muitos líderes da UE e cidadãos da Hungria acreditam que o escândalo causado em torno da lei anti LBGT seja uma estratégia política para contornar problemas maiores que o país apresenta, como os rumores de corrupção bancados pelos fundos públicos reservados para conter o agravamento da pandemia causada pelo Coronavírus. Com as eleições ocorrendo no final de 2022, Orbán estaria redirecionando as atenções para a ameaça às minorias, ao invés dos escândalos políticos que o envolvem.



Estado de Direito e o Artigo 7°


Considera-se uma comunidade em Estado de Direito através de um conjunto de formulações formais e substantivas. A concepção formal diz respeito à forma a qual leis são promulgadas, à clareza e à dimensão temporal das normas, porém não tem relação com o conteúdo das normas. Desta forma, as normas de um país como a Hungria, que assinou o Tratado da União Europeia, devem estar de acordo com o que está pré-estabelecido em tais tratados.

O Estado húngaro encontra-se encurralado entre o TEU e a Declaração dos Direitos Universais da ONU, que se tornou uma cogente inevitável e que não se pode infringir, por isso a aprovação de uma lei que vai contra ambos os tratados traz uma preocupação geral na Europa.

Atualmente a ONU não tem uma Corte que trate da infração dos Direitos Humanos, portanto as ações do governo húngaro permanecem centradas em questões materiais e diplomáticas, referindo-se apenas aos requerimentos originais, uma vez que os governantes não podem ser julgados pela Corte Internacional de Justiça, apenas os Estados representados pelos mesmos, assim segue uma preocupação com a formulação de bases no Direito internacional para a tutela dos Direitos Humanos.

Devido a estar constantemente infringindo o Estado de Direito e os Direitos Humanos, critérios essenciais para ser considerado um país da União Europeia, foi convocado o julgamento da Hungria segundo o artigo 7° do Tratado Construtivo. Os países integrados ao bloco votam para decidir se a nação em questão está infringindo os ideais europeus, caso haja unanimidade em votações trifásicas, o Conselho Europeu pode exercer sanções.

Considera-se esta uma medida paliativa, tendo um impacto meramente simbólico, uma vez que a Polônia é aliada da Hungria e não seria alcançada a unanimidade nas votações, o resultado frustrado também pode ser dado pela falta de recursos e pela falta de tempo para que seja de fato exercido o julgamento. Além dos fatores diplomáticos, a pandemia do COVID-19 apresenta uma prioridade muito maior.



Considerações Finais


As decisões antidemocráticas e anti progressistas do governo húngaro determinam preocupação geral na Europa, principalmente no que se trata do Estado de Direito. Tendo assinado tanto o Tratado da União Europeia quanto a Carta Universal dos Direitos Humanos, é percebido mundialmente que a concretização dos direitos e a proteção das minorias é insuficiente e incompleta. As ações da Europa são ineficazes contra o primeiro-ministro Viktor Orbán e a ONU não parece estar à par dos acontecimentos, uma vez que não fez nenhum pronunciamento até o presente momento.

A crescente nos casos de homo e transfobia na Hungria são um reflexo das medidas que vão contra os ideais do país, que já foi considerado uma das nações mais progressistas do continente, além de mostrarem a liberdade que o ódio e a discriminação tomam em frente à uma ação tão pequena, como a mera anunciação de um projeto de lei.

Através do ponto de vista apresentado no presente artigo, torna-se imprescindível expandirmos o panorama das problemáticas europeias, lembrando-nos de todas as propostas de proteção aos Direitos Humanos, pois no atual cenário, o TEU e a CUDH parecem insuficientes para a concretização dos direitos civis e políticos no contexto internacional.



Referências Bibliográficas


LISE, Diana; QUINTANS, Gabriel Rogenfisch. ESTADO DE DIREITO: OS CASOS DA POLÔNIA E DA HUNGRIA. 2021. 1 v. Tese (Doutorado) - Curso de Direito, Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2021. Disponível em: http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rpdue/article/view/83432. Acesso em: 25 jul. 2021.

LEI HÚNGARA SOBRE LGBT ENTRA EM VIGOR. Amapá, 08 jul. 2021. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/07/08/lei-hungara-sobre-lgbt-entra-em-vigor. Acesso em: 25 jul. 2021.


HUNGRIA: EURODEPUTADOS UNIDOS CONTRA POLÊMICA LEI ANTI-LGBTQI. São Paulo, 07 jul. 2021. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/07/07/hungria-eurodeputados-unidos-contra-polemica-lei-anti-lgbtqi. Acesso em: 25 jul. 2021.


VON DER LEYEN: LEI HÚNGARA ANTI-LGBT É "UMA VERGONHA". São Paulo, 23 jun. 2021. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/06/23/von-der-leyen-lei-hungara-anti-lgbt-e-uma-vergonha. Acesso em: 27 jul. 2021.

HUNGRIA CONVOCA REFERENDO SOBRE LEI QUE DISCRIMINA COMUNIDADE LGBT. São Paulo, 21 jul. 2021. Disponível em: https://www.rfi.fr/br/europa/20210721-hungria-convoca-referendo-sobre-lei-que-discrimina-comunidade-lgbt. Acesso em: 26 jul. 2021.


CINCO ASPECTOS DA POLÊMICA LEI HÚNGARA SOBRE DIREITOS LGBT. São Paulo, 24 jun. 2021. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/06/24/interna_internacional,1280039/cinco-aspectos-da-polemica-lei-hungara-sobre-direitos-lgbt.shtml. Acesso em: 27 jul. 2021.


HUNGRIA PROÍBE TEMÁTICA LGBT PARA MENORES. São Paulo, 15 jun. 2021. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/hungria-pro%C3%ADbe-tem%C3%A1tica-lgbt-para-menores/a-57906858. Acesso em: 27 jul. 2021.


HUNGRIA APROVA LEI QUE PROÍBE "PROMOÇÃO" DA HOMOSSEXUALIDADE PARA MENORES DE 18 ANOS. São Paulo, 15 jun. 2021. Disponível em: https://www.rfi.fr/br/europa/20210615-hungria-aprova-lei-que-pro%C3%ADbe-promo%C3%A7%C3%A3o-da-homossexualidade-para-menores-de-18-anos. Acesso em: 28 jul. 2021.


CARTA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA UNIÃO EUROPEIA (2016). Acesso em 28 jul. 2021.


TRIBUNAL EUROPEU DE JUSTIÇA ABRE A PORTA A ATIVAÇÃO DO ART° 7° CONTRA A HUNGRIA. São Paulo, 03 jun. 2021. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/06/03/tribunal-europeu-de-justica-abre-a-porta-a-ativacao-do-art-7-contra-a-hungria. Acesso em: 28 jul. 2021.


Comments


bottom of page