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Nascimento da Realpolitik Israelense


Para o Mossad, a execução de um terrorista não é política, mas a ferramenta do Estado para sua dissuasão | Foto: www.ericfrattini.com



Resumo

Israel é um país jovem que teve um tempestuoso início de vida. A hostilidade recíproca entre ele e seus países vizinhos, e os vizinhos destes, levam a política externa Israelense a uma zona cinza onde moralidade e coerência com seus ideais nem sempre são caminhos válidos para a manutenção da segurança nacional. A Realpolitik toma, então, papel central na mentalidade política israelense.


Palavras-chave: Israel. Realpolitik. Política Externa. Política.


Abstract

Israel is a young country that has had a tempestuous start in life. The reciprocal hostility between it and its neighboring countries, and their neighbors, takes Israeli foreign policy into a gray zone where morality and consistency with its ideals are not always valid ways to maintain national security. Realpolitik thus takes on a central role in the Israeli political mentality.


Keywords: Israel. Realpolitik. Foreign policy. Policy.



Introdução


Desde sua fundação, em 1948, o Estado de Israel encontra-se numa situação delicada em diversos aspectos. Dentre eles, ressalta-se a própria existência do mesmo que - sendo fruto, principalmente, do declínio do Império Britânico durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial havia prometido o território para mais de um grupo (árabes, as potências da Entente e a Organização Sionista Mundial) -, está constantemente ameaçada pelos países vizinhos e seus respectivos adjacentes. Isso devido a vários fatores, dentre eles, destacam-se a religião e o processo que resultou no surgimento do país. Para sobreviver, o Estado de Israel trilha um caminho de moral questionável onde narrativa e táticas diplomáticas perante a comunidade internacional, juntamente com movimentos, manobras e investimentos militares se tornam vitais para a segurança nacional.



O Nascimento Agitado de Israel no Século XX


Abordar todo o complexo processo que resulta na criação do Estado de Israel no século XX não é algo que se possa fazer num curto trabalho. Mesmo extensas monografias podem não ser capazes de tal. Este artigo, curto, dá início a sua análise a partir da Assembleia Geral da ONU ocorrida em 29 de novembro de 1947. É neste momento que 56 Estados realizam uma votação que resulta na partilha do território da Palestina, dando origem a Israel em 14 de maio de 1948. Assim, o movimento sionista, surgido no final do século XIX, enfim conquista seu maior objetivo: a criação de um Estado nacional para os judeus.

Logo após a criação do Estado de Israel, é iniciada a Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949) por uma junta de países árabes para retaliação à formação do Estado de Israel na Palestina. Dentre as forças que compunham a aliança árabe, estavam, o exército do Egito, do Iraque, do Líbano, da Síria e da Transjordânia. Até mesmo forças da Palestina compunham o exército opositor ao novo país.

As forças árabes iniciaram a guerra à frente de Israel, que logo no início do conflito sofreu com um ataque em sua capital, Tel Aviv, por parte das forças aéreas egípcias. Um cenário que posteriormente foi contornado. Em 11 de junho de 1948, por influência da ONU, foi assinado um cessar-fogo pelos países em conflito. Essa trégua não durou muito e foi utilizada por ambas as partes para ganhar terreno (CAMARGO, 2013). Pouco menos de um mês após o cessar-fogo, conflitos internos em Israel resultaram na quebra do acordo, e por consequência, em 9 de julho, o conflito é retomado. Nesta segunda parte do conflito, ao contrário da primeira, Israel sobressai sobre as forças árabes e conquista uma série de novas posições.

Por fim, em 7 de janeiro de 1949 é assinado um armistício promovido por esforços do Conselho de Segurança da ONU, pondo um fim à guerra. No pódio como grande vitorioso: Israel, que viu seu território cerca de ⅓ maior do que no início do conflito à custa de um número relativamente baixo de casualidades em suas tropas (cerca de 5 mil).

Esse nascimento conturbado de Israel, que se viu lançado em um conflito armado, se tornou um marco e um pilar central responsável pela criação da faceta adotada pela política externa israelense.



Nascimento da Realpolitik Israelense e a Controvérsia da Aniquilação


A Primeira Guerra Árabe-Israelense ensinou uma dura lição para o jovem país: “não somos bem-vindos”. A criação de Estado nacional judaico na região da Palestina, fundado aos custos territoriais de um país árabe, não é aceito até hoje por diversos países da região. Os olhares maliciosos e o posicionamento explicitamente averso dos países circundantes para com Israel forçaram o país a um constante estado de alerta, gerando uma ansiedade que culminou no início da Guerra dos Seis Dias em 5 de junho de 1967.

Essa guerra pode ser marcada como o primeiro grande ato de Realpolitik da jovem nação. O ataque inicial, realizado de forma abrupta e sem declarações de guerra ao Egito, por parte de Israel é defendido por este como “um ataque preventivo” em resposta à concentração de forças egípcias na fronteira que divide os dois países, a expulsão de observadores internacionais e o fechamento do Estreito de Tiran. Em resposta, países árabes acusam Israel de mentir sobre as ameaças egípcias e planejar a guerra com o intuito de aumentar seu território, que ao longo da dela ocupou a Faixa de Gaza, a Península do Sinai, Jerusalém Oriental, Cisjordânia e as Colinas de Golã; triplicando o território inicial de Israel.

Em 1973, na obra The Myth of Annihilation and the Six-Day War de Joseph L. Ryan, é discutido o que foi chamado de “controvérsia da aniquilação”. Em um discurso, aborda o autor, Matityahu Peled, na época um general reservista de Israel, afirma que a tese de que em 1967 Israel lutava pela sua sobrevivência era apenas um blefe “which was born and bred after the war” e, em 1972, afirmou que desde 1949 nenhum país estava em posição de representar alguma ameaça para Israel. Contudo, sendo publicamente favorável aos Estados Unidos e contrário à União Soviética no contexto da Guerra Fria, apoiou a guerra não com o intuito de defender a existência de seu país, mas para dar credibilidade ao poder dissuasivo de Israel (RYAN, 1973).


Israel had insisted from 1957 that a blockade of the Straits of Tiran would be considered a casus belli. So, General Peled felt, Israel had to act militarily in 1967, when the Straits were closed, to prevent Nasser and the Russians from changing the status quo in the region (RYAN, 1973, p. 40).

A controvérsia da aniquilação não é nada mais do que um claro sinal do que nasce no país. Após os eventos da Guerra dos Seis Dias a recém-nascida Realpolitik israelense passa a ter um rápido desenvolvimento. Um dos momentos na política externa israelense que mais explicitamente demonstra isso ocorre entre as décadas de 1970 e 1980, quando o governo de Israel, em sua política de promover governos totalitários em outros países, vendem armas para uma junta militar na Argentina abertamente antissemítica, pondo em dúvida até mesmo o papel do país como o protetor dos judeus do mundo (BERMANT, 2021). Nas palavras de Emmanuel Navon - Escritor do livro The Star and the Scepter: A Diplomatic History of Israel -, Israel “pushed realpolitik to its limit”.



Conclusão


Israel certamente passou por momentos tempestuosos logo que veio a existir, tendo de enfrentar uma guerra logo em seguida. Estar rodeado de inimigos e a necessidade de se inserir no cenário internacional e adquirir legitimidade obrigam o país a tomar atitudes moralmente questionáveis, caminhando quase que constantemente às margens da Realpolitik. As cicatrizes deixadas em seu início de vida ainda não foram curadas e novas ainda estão sendo produzidas, como visto frequentemente nos veículos jornalísticos. Os vizinhos do país continuam aversos ao mesmo tendo tido tímidos avanços diplomáticos amistosos nos últimos anos. Pode-se dizer que a Realpolitik ainda será dominante na mentalidade israelense como seria em qualquer país em constante estado de alerta e que busca estabilidade como um Estado soberano de si.



Referências Bibliográficas


BERMANT, Azriel. Has Israel Pushed Realpolitik to Its Limits?. Foreign Policy, 26 mar. 2021. Disponível em: https://foreignpolicy.com/2021/03/26/has-israel-pushed-realpolitik-to-its-limits/. Acesso em: 17 set. 2021.


CAMARGO, Cláudio. Guerras Árabe-israelenses. In.: MAGNOLI, Demétrio (org.). História das Guerras. São Paulo: Contexto, 2013.


CUKIER, Heni Ozi. Geopolítica de Israel. 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=C6cOqdOfG18&t=1446s. Acesso em: 14 set. 2021.


GOMES, Aura Rejane. A Questão da Palestina e a Fundação de Israel. 2001. Dissertação (Mestrado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. doi:10.11606/D.8.2001.tde-24052002-163759. Acesso em: 2021-09-14.


HERZL, Theodor. O Estado Judaico. Trad. Dagoberto Mensh. Poeteiro Editor Digital: São Paulo, 2015. p. 9.


NERDOLOGIA. Guerra dos Seis Dias | Nerdologia. Youtube, 13 jun. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ptTZKSpZn14. Acesso em: 16 set. 2021.


RYAN, Joseph L. The Myth of Annihilation and the Six-Day War. Worldview, v. 16, n. 9, p. 38-42, 1 set. 1973.


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