top of page

O discurso da extrema direita

Atualizado: 28 de out. de 2021



Resumo


Este artigo, visa discutir sobre a temática de securitização dentro das organizações da extrema direita brasileira. Assim como, grupos extremistas estrangeiros que ajudaram a espalhar seus métodos de discursos e ideias conservadoras para elevar o apoio político de candidatos como Bolsonaro no Brasil, unificando extremistas ao redor do mundo.


Palavras chaves: Securitização, discurso, extrema direita, Bolsonaro.



Introdução


O processo de securitização, muito conhecido nas Relações Internacionais, é uma ferramenta extremamente utilizada por chefes de estado em momentos delicados da política externa de qualquer país. Não por acaso, diversas vezes, principalmente se tratando de declaração de intervenções militares ou de guerra, os líderes políticos sempre apresentam um objeto que necessita ser protegido e quem está o ameaçando sendo representado como ‘mal a ser combatido’.

De acordo com a Escola de Copenhague, para que um objeto seja securitizado, ou seja, ser tratado como algo que está sob ameaça de um terceiro, é preciso que o agente emissor, nesse caso o líder político ou alguma figura política de alto escalão atribua esse significado de fragilidade através do discurso. O ato de falar, de discursar, de convencer o público alvo, é fundamental para que a população compre determinada ideia de que realmente existe um cenário de ameaça, de que há urgência em defender o objeto, e ainda, que há a necessidade de apontar quem é o responsável pela situação.

Embora a teoria seja utilizada para explicar os mecanismos usados em momentos importantes e críticos da política externa de um Estado para que a população apoie alguns conflitos e guerras, como foi no caso da guerra ao terror, após os ataques do 11 de setembro. Em alguns casos mais recentes da política internacional, foi possível identificar muitas figuras políticas eleitas ou em época de campanha utilizando do discurso securitizador de uma maneira diferente, porém, com o mesmo objetivo de tentar alcançar uma pauta coletiva que precisaria ser tratada com status de urgência.



O discurso de ódio


É possível citar diversos exemplos, como o próprio ex-presidente norte-americano, Donald Trump, que se pautou num discurso isolacionista dos EUA em relação ao sistema internacional. E ainda, levando pautas xenofóbicas, como as promessas da construção do muro na fronteira com o México, juntamente à deportação em massa de imigrantes ilegais, elevando as tensões sociais no país, uma vez que, Trump colocava em risco o emprego e segurança dos americanos quando discursava acerca das intenções dos imigrantes de maioria latina.

Dessa forma, o objeto que foi securitizado, é justamente os postos de trabalho e a tranquilidade da vida do americano médio, que de acordo com as palavras do republicano foram ameaçadas pelas pessoas que migraram aos EUA. Posto uma vez em pauta, e aceito pelo público alvo, o discurso securitizador vira um problema a ser resolvido e discutido de forma coletiva mesmo que para um grupo específico, como vemos acontecer em outros países com pautas anti-imigrações muito parecidas, sempre carregadas de ideias extremamente conservadoras e preconceituosas.

O próprio Brexit é outro exemplo disso, ideias conservadoras que beiram a xenofobia e o racismo, conseguiram mudar a opinião pública a respeito da participação do Reino Unido no bloco europeu de favorável ao permanecimento para contrária. Ademais, não é nenhuma novidade que a extrema direita vem ganhando cada vez mais espaço em todos os países ao redor do mundo, embora as causas possam ser distintas, os métodos para angariar apoiadores, seguidores, e por fim, eleitores, é muito parecido em todos os locais em que há uma presença significativa desse grupo político.



A união da extrema direita


O Brasil, assim como nos exemplos anteriores, tem um número expressivo de grupos organizados para trabalhar os mantras da extrema direita brasileira, que inclusive apoiam abertamente o atual governo federal. Esse apoio não é nada recente, durante a própria campanha eleitoral, Jair Bolsonaro, já discursava em prol de ideais defendidos por grupos extremistas da extrema direita, de religiosos, e até mesmo neonazistas.

Contudo, os métodos usados por Bolsonaro em sua campanha, foram não somente apoiados por outras entidades e grupos estrangeiros conservadores e extremistas, houve o repasse do “know how”, ou seja, dos métodos de conhecimento adquirido em outros lugares do mundo. Um dos principais, foi de uma organização espanhola, na qual seu líder visitou o Brasil no ano de 2013, juntamente ao propósito de unir forças com os grupos políticos extremistas brasileiros, garantindo assim, um maior alcance de público para suas ideias.

A Hazte Oir, a organização espanhola citada acima, que ganhou grandes proporções obtendo acesso fácil aos membros do Opus dei e do próprio Vaticano, foi uma das responsáveis por disseminar a forma como se deve discursar para a propagação e aceitação desses ideais. O Padre Paulo Ricardo, brasileiro, que estava presente em um dos encontros com o líder da organização espanhola, foi o “mentor” de Allan dos Santos, que atualmente se encontra auto exilado nos EUA após fazer ameaças contra o Supremo Tribunal Federal.

As ameaças e acusações feitas pelo blogueiro bolsonarista, se pautaram em discursos violentos que propagam desinformação e comportamento anti-democrátio, apesar da ligação do mentor de Allan dos Santos com a Hazte Oir, ele não é o único apoiador que teve proximidade com o Padre Ricardo. O próprio presidente e “seu guru” Olavo de Carvalho já estiveram juntos, unindo suas forças, já que defendem as mesmas pautas, como a criminalização do aborto, políticas de facilitação de acesso á armas, e um comportamento ultra religioso.

Além disso, existem muitos outros bolsonaristas que tiveram contato com figuras que receberam treinamento do líder da Hazte Oir justamente com o propósito de ampliar a influência de pautas conservadoras pelo mundo. Aqui no Brasil, pode-se entender que foi uma organização muito bem sucedida, pois, mesmo com eleições conturbadas, o candidato que falava em nome da pátria, Deus e família acabou vencendo o candidato petista no segundo turno.

Porém, essa vitória totalmente inesperada em pouco menos de um ano antes das eleições de 2018, só foi possível graças ao tom de ameaça aos valores que Bolsonaro diz defender estariam sofrendo. É justamente o discurso proferido de forma urgente, numa tentativa de alertar aos perigos que esses valores estão correndo, que Bolsonaro consegue securitizar seu lema de campanha, o que para aqueles que o apoiam ou apoiaram cegamente significava um risco eminente, cuja única forma de garantir a segurança desses valores, era o voto em Bolsonaro para a presidência.

Não é novidade dentro das Teorias das Relações Internacionais, em relação ao tema da securitização, que em quase todos os casos, o objeto que está sob ameaça seja valores. Mas não qualquer valor, se trata na verdade, de um resgate de um passado glorioso ou de tranquilidade, no qual, muitas vezes, nem sequer existiu. Dentro do discurso bolsonarista, não é diferente, é possível identificar grupos saudosistas da ditadura, pessoas pedindo por “ordem” novamente, pois, segundo elas, os governos petistas teriam deturpado a organização anterior que seria a adequada.



Conclusão


Apesar de o Partido dos Trabalhadores terem se tornado o principal alvo dos apoiadores do governo, pois, seria do partido petista a responsabilidade, assim como, do comunismo, do marxismo cultural e do globalismo dos valores conservadores estarem sob ameaça. Todos esses elementos apresentados como as figuras que colocam em risco a vida do cidadão de bem, são o mal a ser combatido, é contra essas organizações que o presidente discursa para lutar, para impedir que o país fique numa situação de caos generalizado sem nenhum tipo de valor moral.

Sendo assim, a extrema direita no Brasil, consegue se sair bem com a eleição de um candidato que sempre apoiou publicamente o racismo, machismo, homofobia entre outros, travestindo esse discurso de ódio com uma falsa promessa de estar defendendo a pátria, Deus e a família. Por fim, devido à capacidade de distorcer valores e securitizá-los de uma forma tão expressiva, Bolsonaro, ganha apoio e aval para atuar como o grande salvador da pátria que nos livraria dos perigos imaginários que ele e seus diversos grupos de apoiadores criaram.



Referências Bibliográficas


BETIM, Felipe. Do bolsonarismo ao integralismo, como a extrema direita se organiza na internet. El País. Rio de Janeiro, 2019. Disponível em<https://brasil.elpais.com/brasil/2019-12-28/do-bolsonarismo-ao-integralismo-como-a-extrema-direita-se-organiza-na-internet.html?fbclid=IwAR220EYhPYaAInh7aKihVeUJKwQTUAMJ81jWY92x_nwb8n6ihNHA22HzMh0>

DEMORI, Leandro. O criador: radical católico da Espanha treinou a extrema direita brasileira em 2013 com táticas que elegeram Bolsonaro. The Intercept Brasil. São Paulo, 2021. Disponível em<https://theintercept.com/2021/08/18/catolico-espanha-citizengo-treinou-extrema-direita-2013-bolsonaro/?fbclid=IwAR3DWfU3gHf298A3NSe1OSkRQqsF2ieeSugZz-FsR8yr8tq3KNvaqdp0rnM>

LEITE, Lucas. A construção do inimigo nos discursos presidenciais norte-americanos no pós Guerra Fria. Editora Unesp. São Paulo, 2013. Disponível em<https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/109288/ISBN9788579834691.pdf?sequence=1&isAllowed=y&fbclid=IwAR2N1yJLeXZ5g6CPKBRKxljdoGPP-5I8a6y2oerDjpzzuaQMSHPaXzQC1nU>



Comments


bottom of page