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Rússia e China: uma aliança contra o Ocidente?



RESUMO

O presente artigo tem como objetivo trazer uma conceitualização das relações entre duas potências: Rússia e China, baseando a análise desde os aspectos da bipolarização do Sistema Mundial no contexto da Guerra Fria, até cenários mais atuais no século XXI.


Palavras-chave: China, Rússia, Guerra Fria,


ABSTRACT

The present article aims to bring a conceptualization of the relations between two powers: Russia and China, basing the analysis from aspects of the bipolarization of the World System in the context of the Cold War, to more current scenarios in the 21st century.


Key-words: China, Russia, Cold War,


Introdução


Durante a Guerra Fria, as relações entre China e Rússia, ao contrário do que se espera, por se tratar de dois regimes socialistas, foi de distanciamento e conflitos. Pode-se afirmar que o socialismo de Mao Tsé-Tung e de Stalin são muito diferentes, gerando esse distanciamento entre eles, muito embora se tratem de países indispensáveis para cada um, haja vista a fronteira entre eles e o poder de ambos no cenário da Eurásia.

Posteriormente à Guerra Fria, os dois países se aproximaram de maneira inédita, construindo uma relação que se mostra essencial para a análise da dinâmica internacional do século XXI. Em suma, a busca pela superação de um sistema internacional liderado pelos Estados Unidos e a busca por alternativas que compensem as sanções e as pressões internacionais se mostram como os vetores da aproximação entre os países. Diante disso, é analisada as relações bilaterais entre China e Rússia desde a Guerra Fria e os dias atuais, compreendendo fatores de aproximação e de distanciamento.



1. Contexto Histórico


No que tange ao contexto histórico das relações entre a Rússia, que por muito tempo foi parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), e a China, houveram muitas incertezas e relações de convergências e conflitos. Primeiramente, essa relação foi marcada por dois projetos de desenvolvimento socialista e de uma transição capitalista. Com o fim da chamada Segunda Guerra Mundial, a bipolarização do sistema internacional trouxe uma forte convergência entre os projetos econômicos capitalistas e socialistas, mas mesmo do próprio socialismo, que era onde se enquadra URSS e China, houve divergências e episódios conflituosos. É a partir desse cenário incerto que se desenvolve as relações sino-russas.

Durante a Guerra Fria, houve a liderança de blocos divergentes entre Estados Unidos (capitalista) e URSS (socialista), conduzindo as relações dentro do contexto dessa nova ordem mundial, além de uma presença, por exemplo, de uma forte expansão territorial e bélica para manter suas respectivas influências. Já ainda nesse contexto, mas o que tange à situação chinesa, a China socialista vinha ganhando influência, tanto devido à sua posição estratégica na Ásia, quanto às relações com a URSS. Essas relações foram impulsionadas pelo interesse no desenvolvimento nacional de ambos os países, mas também por suas políticas anti-Estados Unidos e anticapitalismo.

No decorrer dos anos 1940 até os anos 1960, ambas as economias, chinesa e soviética, se fortaleceram e se afastaram da influência norte-americana, fortalecendo, também, seus projetos e políticas socialistas. Com a formação da República Popular da China em 1949, a política externa chinesa acentuou ainda mais as relações com o bloco soviético: Mao Tse-Tung, líder do Partido Comunista Chinês (PCCh), através do chamado “lean to one side”, apontava para a necessidade de relações de comprometimento entre os dois atores, ainda mais pela similaridade entre os governos de Mao e de Stalin. Do ponto de vista soviético essas relações também eram benéficas, uma vez que ao se comprometer com relações e parcerias com a China, sua influência se tornava ainda maior, visto o cenário de competitividade em que se encontrava com as políticas estadunidenses.

No que tange ao desenvolvimento econômico, a China se encontrava em um momento instável de sua economia, havia um baixo grau de produtividade de suas forças produtivas, demandando muitas vezes por empréstimos soviéticos para seu próprio desenvolvimento. Já o lado soviético das apresentadas relações, era de extrema importância a importação de bens de capital e insumos agrícolas advindos da China, que após a Revolução Comunista se mostrava instável e afetada por uma baixa legitimidade do governo de Mao Tse-Tung. Os dois países, ainda que caracterizados por suas políticas socialistas, se encontravam em um aspecto frágil no que tange às suas relações, que se encontravam em um cenário contraditório.

A China se mostrava cada vez mais dependente de aspectos tecnológicos soviéticos, fato que se agravou no decorrer da Guerra da Coreia, em que prezava apoio aos norte-coreanos, assentando-se em paralelo aos ideais estadunidenses. A partir desse conflito, o Estado chinês começa a sofrer represálias por parte da Coreia do Sul e de seus aliados, as potências capitalistas. A partir dessa situação, houve ainda uma maior dependência dos incentivos soviéticos sobre a economia chinesa: cerca de mais de 10 mil especialistas soviéticos auxiliaram os chineses nesse contexto do conflito e da Guerra da Coreia (FAIRBANK; GOLDMAN, 2006). Além disso, em termos numéricos, mais de um quarto de todo o investimento aplicado nesse contexto sobre armas e equipamentos por parte da China, eram soviéticos (LEÃO, 2010). Já no cenário político, as relações entre Mao e Stalin se mostraram divergentes, mas com o começo do governo de Nikita Khrushchev, as relações entre os dois países se enfraqueceram ainda mais: havia diferenças na ideia da expansão do modelo comunista entre os dois atores. Nikita defendia políticas de coexistência pacífica com o Ocidente e Mao afirmava a existência de uma ameaça capitalista constante e proclamava que o líder sovético havia deixado de lado os principais objetivos da revolução, que trazia como base a igualdade social, ascensão das massas e a repressão da burguesia (FAIRBANK; GOLDMAN, 2006).

É a partir desse contexto que o bloco soviético começa a ver na produção chinesa de bombas nucleares uma ameaça ao seu modelo de socialismo e começa a negar parte de seus incentivos financeiros para a China que, mesmo após os citados empecilhos, detona sua primeira bomba nuclear em 1964 (LOBO; 2007). A crise em suas relações tiveram seu auge quando há a saída de técnicos soviéticos de uma série de projetos industriais chineses. Como consequência, a partir das divergências ideológicas entre os dois países e da falta de investimentos soviéticos sobre a China, esta começa a se isolar no contexto mundial, visto que passou a não manter mais relações com a URSS e nem com o Ocidente como um todo. Mao começa a instaurar políticas de autossuficiência e de resistência perante atores que agora se mostravam ser ameaças. Entretanto, no que tange ao bloco soviético, esse sofria com a estagnação de sua economia visto que parte de suas exportações agora não podiam mais depender da compra chinesa.

Esse contexto se modifica apenas nos anos 1970, mas principalmente nos anos 1980, quando a China retorna suas relações com os países capitalistas e, ainda que de maneira gradual e de longo prazo, uma parceria comercial com os Estados Unidos, uma vez que isso modificou ainda mais as relações China-URSS, e as tornou ainda mais impossíveis, visto o cenário bipolar entre Estados Unidos e a própria URSS.

Já no decorrer dos anos 1970 e 1980, a partir da interrupção dos anos anteriores no que tange às parcerias entre URSS e China, o distanciamento ainda se mostrava maior: houve a aproximação sino-americana como via de combate aos soviéticos e o período foi marcado pelo dinamismo chinês, a escolha de Mao de se aproximar da potência capitalista americana se concentrou na preocupação com a concentração de tropas soviéticas nas fronteiras chinesas, além da pressão dos grupos chineses preocupados com o petróleo (FURTADO, 2010).

Posteriormente, já na metade da década de 1990, houveram mudanças nas relações sino-soviéticas, que com o colapso da União Soviética, passariam a ser sino-russas. Para a China, o ressurgimento dessa parceria era de importância geopolítica, visto que a Rússia possui um amplo arsenal militar, podendo auxiliar na modernização das forças chinesas. Para a Rússia, esse retorno das relações sino-russas se mostrava importante por uma função totalmente estratégica: ela era importante para contrabalançar a hegemonia dos Estados Unidos.



2. Relações entre China e Rússia no pós-Guerra Fria


O fim da Guerra Fria consolidou o final da URSS. Com isso, o mundo se deparou com uma tese predominante nas Relações Internacionais: os Estados Unidos venceu o conflito que marcou a segunda metade da década do breve século XX (HERZ; HOFFMAN, 2004). Seguindo esse raciocínio, os ideais de livre-mercado, direitos humanos e democracia saíram vencedores no conflito ideológico - embora não se limite a esse campo, é sempre importante destacar - da Guerra Fria (HERZ; HOFFMAN, 2004). Francis Fukuyama, por exemplo, defendeu a tese de que a História - com “h” maiúsculo - tinha chegado ao seu fim com a humanidade tendo chegado ao auge, abandonando a barbárie que marcou a história do ser humano (HERZ; HOFFMAN, 2004).

Aos perdedores da Guerra Fria, cabia seguir o caminho vitorioso para se tornaram parte desse novo arranjo que estava surgindo (HERZ; HOFFMAN, 2004). A Rússia, diante de um Estado desintegrado em decorrência do fim da URSS, seguiu um caminho diferente do chinês: liberalização tanto do Estado como da economia (BIANCO, 2020). Em suma, o Estado russo, que já vinha passando por um processo de democratização - muito limitado - desde anos anteriores ao fim da Guerra Fria, com as estratégias de Gorbachev, “Perestroika e Glasnost” (em tradução direta: reestruturação e transparência). Na economia, a Rússia passou por um processo de liberalização, com forças produtivas mais independentes do Estado e com um trilho que levava ao capitalismo (BIANCO, 2020).

A China, desde 1978, com a morte do líder da revolução de 1949, Mao Tsé-Tung, e a chegada de Deng Xiaoping ao poder, com seu projeto de modernização e abertura chinesa, já apresentava um caminho de abertura comercial com o ocidente, visando, sobretudo, ampliar sua rede comercial e conseguir tecnologias avançadas (BECARD, 2008). Porém, o regime político se manteve centralizado no PCCh, com uma liberalização percebida unicamente na via econômica (BECARD, 2008).

O fim da URSS permitiu que os laços entre a Rússia e China adquirissem uma nova roupagem, haja vista que não existia mais os desacordos entre o comunismo soviético e chinês (BIANCO, 2020). Além disso, os países compartilham uma fronteira de mais de 4 mil quilômetros, sendo importante que os países cultivem relações pacíficas em um período de transição e mudanças drásticas, tanto internas quanto no cenário internacional (BIANCO, 2020). Desse modo, o fim da URSS marca um ponto de inflexão nas relações sino-russas.

Em dezembro de 1992, Boris Yeltsin, presidente da Rússia, faz a primeira visita oficial do presidente à China (REUTERS, 2008). Nessa ocasião os dois países assinaram a Declaração Conjunta sobre a Fundação de Relações Mútuas entre a República Popular da China e a Federação Russa (REUTERS, 2008). Dois anos depois, em 1994, os países assinaram a segunda declaração com os mesmos princípios da de 1992, tendo como foco uma aliança que perdure no século XXI e que a cooperação entre eles caminhe com estratégias em conjunto (REUTERS, 2008). Além disso, nesse mesmo ano, assinaram um documento se comprometendo a não atacarem um ao outro com armamentos nucleares (REUTERS, 2008). Com isso, China e Rússia se comprometem a cultivar relações amistosas entre os dois países, visando a uma cooperação que se estenderia para o século XXI.

Em 1996, China e Rússia elevaram suas relações para o status de parceria estratégica, um nível mais elevado nas relações bilaterais na política externa chinesa, em um movimento de clara aproximação entre os países (GLOBAL TIMES, 2021). Em suma, os países reconhecem que cada movimento do parceiro no cenário internacional tem uma importância altíssima em termos de estratégia e posicionamento internacional, sendo importante que haja uma cooperação e proximidade em torno de pontos de convergência (BECARD, 2008). Diante disso, é notório que China e Rússia adotam uma posição de coordenação - com limitações e determinadas divergências, claro - de política externa, de modo que a união dos atores é uma variável incontestável de qualquer análise da dinâmica de poder da Eurásia.

Em julho de 2001, Rússia e China assinaram um Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável (GLOBAL TIMES, 2021). Esse tratado tem dois pontos basilares: os dois países apoiam a unidade nacional e integridade territorial; os dois países respeitam as escolhas políticas, econômicas, sociais e o desenvolvimento cultural do parceiro (GLOBAL TIMES, 2021). Em síntese, esse tratado exalta a inalienabilidade da soberania dos países, isto é, o Estado de cada um dos países tem o direito e o poder de ser o responsável por tomar as decisões dentro do país (GLOBAL TIMES, 2021). Não apenas isso, a defesa da soberania implica que o que acontece dentro do país são questões internas, não devendo ser alvo de escrutínio explícito internacional (GLOBAL TIMES, 2021). A soberania é um tema caro para ambos, de modo que se comprometem com sua defesa intransigente.

Um elemento do ano de 2001 é importante para a discussão levantada neste trabalho: o 11 de setembro. Em decorrência dos ataques às torres gêmeas, os Estados Unidos, inicialmente endossados pela Organização das Nações Unidas (ONU), incluindo China e Rússia - membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU -, e posteriormente agindo de maneira unilateral, retaliaram e deram início à Guerra ao Terror (DEBONE; SCHUTTE, 2020). A percepção por parte de China e Rússia de que os Estados Unidos estavam empenhados em sua própria cruzada, desrespeitando os princípios das Nações Unidas, fez com que o ceticismo em relação aos Estados Unidos aumentasse, sendo um elemento importante na composição da estratégica russa e chinesa de posicionamento global (DEBONE; SCHUTTE, 2020).

Ainda no raciocínio do parágrafo anterior, a política externa chinesa e russa no século XXI apresentam uma característica relevante: o combate ao unipolarismo na ordem internacional (BIANCO, 2020). Embora seja possível perceber diferenças sobre o mundo hipotético posterior ao unipolarismo dos Estados Unidos, a conquista de um mundo com mais margem de manobra, isto é, com menos risco de retaliação em decorrência de uma ação que seja contrária aos princípios do agente que lidera o sistema internacional (BIANCO, 2020). Assim, um elemento de política externa essencial para a presente análise é o viés anti-hegemônico daquelas.

Em agosto de 2005, ocorre um dos eventos mais marcantes na construção das relações entre China e Rússia no século XXI: realizam seu primeiro exercício militar em conjunto (REUTERS, 2005). Até então, uma possível cooperação ou aliança militar não tinha bases empíricas suficientes para afirmar esse tipo de aproximação entre os países, porém, esse exercício demonstrou um novo momento. Ainda assim, não existia algum documento que formalizasse uma possível aproximação militar clara entre os países, se mantendo como uma aproximação não falada e com pouca clareza de objetivos.

Em 2011, China e Rússia elevaram seus laços ao status de parceria estratégica global de coordenação, 10 anos após a assinatura do Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável (GLOBAL TIMES, 2021). Pode-se afirmar que se trata mais de uma reafirmação do tratado de 2001, remontando, inclusive, ao de 1996, para deixar claro que a relação entre os países se mantém viva e frutífera na década que estava começando.

Ainda em 2011, no cenário da Primavera Árabe, teve início a Guerra Civil da Síria, o conflito mais mortal do século, colocando, mais uma vez, o Oriente Médio no centro da política internacional (AGUILAR; FURTADO; RODER, 2014). Em suma, a Rússia se posicionou e interviu de maneira direta, com pessoal e armamentos, a favor do presidente Bashar Al-Assad, em uma posição oposta ao que Estados Unidos e França adotaram (AGUILAR; FURTADO; RODER, 2014). Com isso, a Rússia é acusada pelos países ocidentais - por conseguinte, por grande parte da comunidade internacional - de apoiar um governo que viola os direitos humanos (AGUILAR; FURTADO; RODER, 2014).

Em 2014, a Rússia anexou a Crimeia, agindo sob a retórica de que a região ucraniana é, histórica e demograficamente, parte da Rússia (CORREIO BRAZILIENSE, 2019). Diante da ação russa, ocorre uma forte pressão internacional contra a Rússia, culminando em sanções internacionais, tanto por parte da União Europeia quanto por parte dos Estados Unidos (CORREIO BRAZILIENSE, 2019). Assim, a Rússia se tornou relativamente isolada no sistema internacional, especialmente no mundo ocidental.

Em 2016, com a chegada de Donald Trump ao poder dos Estados Unidos, o combate à China tornou- se uma plataforma política indispensável para o presidente estadunidense (BIANCO, 2020). Esse contexto pode ser resumido na Guerra Comercial entre Estados Unidos e China, marcada pela imposição de sanções econômicas por ambos os lados (BIANCO, 2020). Com isso, os dois países, que são, também, os parceiros comerciais mais relevantes entre si, limitaram as relações comerciais entre eles.

Donald Trump dá início à postura estadunidense de oposição e embate mais agressivo com a China - e, em certa medida, com a Rússia -, o que se manteve com Joe Biden. Em suma, China e Rússia se consolidaram como os principais inimigos do Ocidente, a exemplo das declarações da Organização do Tratado Atlântico Norte (DW, 2021) - uma cooperação de segurança coletiva, isto é, o comprometimento dos membros de agirem em conjunto em caso de ataque a qualquer um dos membros - e do G7 (DW, 2021) - grupo das 7 nações mais ricas do mundo. Em todas elas, a Rússia e a China foram colocadas como inimigos diretos à sobrevivência do Ocidente. Mais do que isso, há declarações agressivas por parte de Joe Biden, como o episódio em que chamou o Putin de assassino (G1, 2021). Em relação à China, Joe Biden enviou tropas estadunidenses para Taiwan, colocando a questão no maior nível de tensão em décadas (UOL, 2021). Assim, a postura de oposição direta à China e à Rússia é uma tendência que veio para ficar, embora seja preciso mais tempo para analisar o futuro, especialmente das ações do democrata Joe Biden.

A tentativa de distanciamento econômico em relação à China é uma das facetas das relações entre China e Estados Unidos. Uma outra faceta é a de críticas incisivas por parte dos Estados Unidos à China, acusando o PCCh de ser autoritário, violando os direitos humanos de maneira sistemática, especialmente na região de Xinjiang (DEBONE; SCHUTTE, 2020). Mais do que isso, a China, na visão de Trump, estaria em uma jornada de subversão do que se entende como o mundo ocidental, marcado pelos valores do livre-comércio, da democracia e dos direitos humanos (DEBONE; SCHUTTE, 2020). É importante destacar que não se trata de uma posição única dos Estados Unidos, mas, muito compartilhada por todo o ocidente, especialmente na Europa, embora, claro, varie em nível de intensidade. Portanto, grande parte do mundo ocidental se posiciona de maneira cética em relação à China, muitas delas com a imposição de sanções.

Em síntese, China e Rússia se veem em uma posição de relativo isolamento em dois sentidos: comercial e político internacional. Com isso, percebe-se um vão em tais áreas, criando possibilidades reais para que outros países o preencham (DEBONE; SCHUTTE, 2020). Nesse sentido, China e Rússia se veem como alternativas aos países que os sancionam, cultivando um comércio exponencial.

A dinâmica comercial entre China e Rússia é a seguinte: a Rússia exporta, sobretudo, petróleo para a China, ao passo que a China exporta produtos industrializados para a Rússia, em uma tentativa de compensar as perdas decorrentes das sanções (BIANCO, 2020). A China é o principal destino das exportações russas, ao passo que a Rússia figura entre um dos 20 parceiros mais relevantes para as exportações chinesas (BIANCO, 2020). Trata-se de um comércio crescente e que tem apostado nisso para que possam se manter com relativo crescimento, mesmo em face das pressões comerciais e econômicas de parte da comunidade internacional.

A dinâmica política entre Rússia e China se concentra na parceria em torno da defesa intransigente da soberania e unidade nacional (DEBONE; SCHUTTE, 2020). Nesse sentido, os Estados Unidos se tornam um obstáculo considerável, haja vista que expõem países ao escrutínio internacional de maneira sistemática, tendo em vista sua posição de país mais poderoso do mundo e que advoga pelos valores do livre comércio, da democracia e dos direitos humanos (DEBONE; SCHUTTE, 2020). Com isso, uma proximidade política, algumas vezes percebida como militar - embora extremamente limitada e sem bases empíricas claras -, em face dos exercícios militares rotineiros entre os países, se mostra indispensável.

Além do exposto anteriormente, a política externa com caráter anti-hegemônico por parte da China e da Rússia é essencial no sentido de convergência política internacional. Seguindo essa linha, os dois países se apresentam como elementos indispensáveis não só na Eurásia, mas no mundo.


3. Conclusão


Deliberar sobre China e Rússia se trata de analisar os dois maiores países da Ásia, com capacidades de definição dos rumos do sistema internacional. E tem sido assim desde a Guerra Fria, especialmente quando a China assumiu um assento permanente do Conselho de Segurança da ONU. Superando os distanciamentos do passado, os dois países se encontram no mais alto nível de suas relações, baseando-se, sobretudo, na busca por um sistema internacional com menos poder por parte dos Estados Unidos, sempre guiando-se pelo princípio de que a soberania é um direito inalienável dos Estados.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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DEBONE, Victor Sant’Anna; SCHUTTE, Giorgio Romano. Parceria China e Rússia: bases reais para superar desconfiança histórica. Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 15, n. 2, 2020, p. 28-51.


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LEÃO, R. P. F. O padrão de acumulação e o desenvolvimento econômico nas últimas três décadas: uma interpretação. 2010. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Economia, Campinas, 2010.


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