A REINDUSTRIALIZAÇÃO DOS ESTADOS UNIDOS NA ERA DOS SEMICONDUTORES
- Renan Moreira
- 29 de ago.
- 4 min de leitura
PALAVRAS-CHAVE: Reindustrialização; Estados Unidos; Semicondutores;
Geopolítica; TSMC.

Resumo
Este artigo analisa o processo de reindustrialização dos Estados Unidos no
contexto da corrida tecnológica global, com ênfase no setor de semicondutores
e manufatura avançada. Destaca-se a instalação da TSMC no Arizona e os
investimentos da Apple em Kentucky, interpretados como parte de uma
estratégia econômica e geopolítica para reduzir dependências externas e
enfrentar a rivalidade com a China. O estudo discute os impactos dessa política
industrial, o papel do CHIPS and Science Act e as implicações para a segurança
nacional e para a liderança tecnológica global.
Introdução
Os Estados Unidos vêm implementando uma política de reindustrialização
principalmente agora no segundo mandato de Trump, com foco em setores
estratégicos, sobretudo semicondutores e manufatura avançada. Têm
impulsionado investimentos bilionários em fábricas no território americano, com
destaque para a instalação da TSMC em Phoenix (Arizona) sendo a maior
fábrica de semicondutores do mundo, que representa a internalização de etapas
críticas da produção de chips de ponta. Paralelamente, empresas como a Apple
ampliam a produção doméstica, como no caso do vidro dos iPhones fabricado
no Kentucky. Isso se mostra como tais movimentos refletem não apenas uma
estratégia econômica, mas também um reposicionamento dos EUA no cenário
geopolítico mundial, em resposta às tensões com a China, à dependência da
Ásia e à corrida tecnológica pela liderança em inteligência artificial.
Desenvolvimento
A reindustrialização norte-americana não é um processo novo, mas sim
que ganhou força principalmente no contexto da crescente rivalidade com a
China e da percepção de vulnerabilidade das cadeias de suprimentos globais. A
pandemia de Covid-19 e a guerra comercial sino-americana revelaram a
dependência excessiva de componentes críticos produzidos no exterior,
especialmente semicondutores. Nesse cenário, os EUA adotaram uma política
industrial robusta para recuperar sua capacidade produtiva, reduzir riscos e
reforçar sua autonomia estratégica.
O CHIPS and Science Act é uma lei federal dos Estados Unidos, aprovada em
2022, que visa fortalecer a fabricação nacional de semicondutores (chips), que
destinou centenas de bilhões de dólares para pesquisa, desenvolvimento e
manufatura doméstica de semicondutores. O projeto mais emblemático é o da
TSMC, maior fundição de chips do mundo, que está construindo três fábricas em
Phoenix. Com tecnologias de 4 nm, 3 nm e, futuramente, 2 nm, esse complexo
permitirá que os EUA concentrem em seu território parte da produção mais
avançada do setor. Isso não apenas garante resiliência tecnológica, mas
também fortalece a segurança nacional, já que semicondutores são essenciais para aplicações em defesa, inteligência artificial e infraestrutura crítica. Além da
indústria de chips, a reindustrialização se manifesta em outras cadeias de valor.

A Apple, em parceria com a Corning, anunciou que todo o vidro utilizado em
iPhones e Apple Watches será produzido em Harrodsburg, Kentucky, com
investimentos de US$ 2,5 bilhões. Esse movimento não elimina a dependência
da montagem global, ainda concentrada na Ásia, mas demonstra um esforço de
“americanizar” etapas estratégicas da produção e estimular empregos de alta
qualificação dentro do país.
O reposicionamento industrial dos EUA deve ser compreendido no
contexto da competição tecnológica com a China. Enquanto Pequim busca a
autossuficiência em semicondutores e investe pesadamente em inteligência
artificial, Washington procura consolidar uma rede de aliados tecnológicos
(Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Europa) e limitar o acesso chinês a tecnologias
críticas. A TSMC no Arizona, por exemplo, não é apenas uma fábrica, mas um
símbolo de cooperação estratégica entre EUA e Taiwan, em um cenário de
crescente tensão no Estreito de Taiwan.
Ao mesmo tempo, a política de reindustrialização reflete um desafio de soberania
econômica de reduzir dependências externas, assegurar cadeias resilientes e
manter a liderança tecnológica global. Nesse sentido, a disputa por
semicondutores tornou-se uma nova fronteira da geopolítica, comparável à
importância do petróleo no século XX.
Considerações Finais
A reindustrialização dos Estados Unidos representa muito mais do que um
movimento econômico. Ela expressa uma estratégia geopolítica de longo prazo,
que visa garantir autonomia tecnológica, preservar a liderança em inteligência
artificial e reforçar alianças em um cenário internacional marcado pela
multipolaridade. A instalação da TSMC no Arizona e a ampliação da produção da
Apple no Kentucky são exemplos concretos de como os EUA estão
redesenhando sua base industrial. O sucesso dessa estratégia dependerá,
contudo, da capacidade de superar gargalos de mão de obra, custos elevados e
tensões comerciais. Em última instância, a corrida pelos semicondutores se
configura como um dos principais campos da disputa pelo poder global no século
XXI.
Bibliografia
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