A SECUNDARIZAÇÃO DA EUROPA NA POLÍTICA INTERNACIONAL E O IMPÉRIO LATINO DE KOJÈVE
- Lucas Zanforlin
- 5 de set.
- 4 min de leitura
PALAVRAS-CHAVE: Europa; União Europeia; Geopolítica; Século XX; Economia; Política;
Alexandre Kojève.

RESUMO
Este artigo visa análise dos estudos político-econômicos de Alexandre Kojève e o
reflexo destes na política externa da Europa em perspectiva geopolítica atual, explorando
os conceitos básicos de sua doutrina e estabelecendo relação à acontecimentos presentes
e históricos.
DO HEGELIANO IDIOSSINCRÁSICO
Alexandre Kojève, nascido em 1902 no então Czarado Russo, foi um político,
filósofo e professor naturalizado francês. Fez importante papel na economia francesa do
século XX, tendo participação nas negociações do país na Conferência das Nações Unidas
sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e nos procedimentos principais do Plano
Schuman.
Destacou-se no âmbito político por sua interpretação das obras hegelianas, das
quais tomou grande inspiração, e posterior influência na República Francesa no pós-
guerra de 1950.
DA POLÍTICA FRANCESA E EUROPEIA
Kojève tem por início em Outline of a Doctrine of French Policy dois pontos que,
em visão do autor, viriam a se tornar tarefas de grande importância para a política externa
francesa: “segurança da neutralidade real durante uma possível guerra entre russos e
anglo-saxônicos e manutenção do poderio econômico e político, em contraste à
Alemanha, na Europa continental não-soviética” (KOJÈVE, 1945, p.3, tradução nossa).
Por este, o filósofo retrata o cenário de reconstrução do continente como marco
fatal da protagonização francesa, de mesmo modo europeia, e início de redução para
potência secundária nos trâmites internacionais. Assim, Kojève classifica que, para a
sobrevivência política do Estado moderno, este precisa de apoio de uma união imperial
de nações afiliadas.
“Seria vaidoso tentar manter a realidade política de qualquer nação por período prolongado em um mundo em que Impérios já subsistem: o Anglo-Saxônico – de fato, Anglo-Americano – e o Eslavo-Soviético. Até a nação alemã, por muito a mais poderosas das nações no sentido estrito, não pode mais conduzir uma guerra vitoriosa, assim sendo incapaz de se afirmar politicamente como Estado. [...] Destes termos, a Alemanha de amanhã terá de se clivar para um ou para outro desses Impérios.” (KOJÈVE, 1945, p. 8, tradução nossa).
Por deste modo, o filósofo interpreta os Impérios respectivamente às zonas de
influência da ordem bipolar da Guerra Fria. Determinando que, para a França, é preciso
ter um ideal político claro e conciso, movido a “repolitização” das manifestações
francesas, objetivado à superação destes círculos imperiais.
DO IMPÉRIO LATINO
Em determinação da sobrevivência da independência europeia, Kojève acreditava
que a afiliação entre Estados era necessária. Para impedir a assimilação anglo-saxônica,
o autor propôs o conceitual do Império Latino, um preâmbulo da União Europeia que
agiria como fonte imperial do continente europeu. Deste modo, determinou que as nações
latinas do mediterrâneo, França, Espanha, Portugal e Itália, formassem uma unidade de
esfera política.
“Em 1945, Kojève entendeu que qualquer tentativa de reconstruir a grandeza da França como Estado-nação seria delusional, dado a difícil realidade do poderio militar Anglo-Americano, assim como o fato soviético. O último decisivamente empurraria a Alemanha para o Império americano como proteção dos riscos de absorção pelos soviéticos. Kojève procuraria convencer De Gaulle que nenhuma nação no mundo contemporâneo poderia assegurar base adequada em poderio militar sem se aliar ou afiliar com outros Estados. Este foi, de acordo com Kojève, o motivo da queda de Hitler” (HOWSE, 2004, tradução nossa).
O Império de Kojève asseguraria base adequada para a prosperação da
sobrevivência política do Estado-moderno europeu, objetivado a reformar as sistemáticas
do jogo de poder das grandes potências do século XX e garantir cooperação mútua entre
as nações do continente.
Inspiraria a formação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e, por
decorrência, do Mercado Comum Europeu em sua formação inicial.
DA UNIÃO EUROPEIA
Em vista da atual contemporaneidade, Alexandre Kojève representou o desejo
embrionário do destaque europeu em meio às grandes potências do bipolaríssimo e, não
obstante, com ideais contínuos até o multilateralismo global pós-Guerra Fria.
Destacou-se a importância da formação unitária do continente para a resistência
contra zonas de poder de capacidade global, em visão da manutenção de um sistema
político-econômico independente e capaz de exercer própria influência ultramarina.
Por disto, a União Europeia volta aos palcos de debate à procura de expansão
relutante, principalmente enfrentada, por um lado, pelo isolacionismo iliberal do governo
de Donald Trump nos Estados Unidos e, por outro, pelo histórico intervencionismo russo
a mando de Vladimir Putin. Tornando-se possível principal instrumento de esforços para
a destituição do hegemon norte-americano, realizando o sonho do Império Latino de
Kojève.
Em aspecto amplo, faz-se, pela queda da União Soviética em 1991, outro
obstáculo da doutrina kejeveiana, marcado pela República Popular da China e o controle
do mercado global. Nisto, destitui-se a realidade bipolar da época do autor e reitera-se a
complexidade multilateral do novo milênio, direta autoridade no papel europeu.
Sumariamente, os desafios da atual União se manifestam mais extensos e
financeiramente interligados, ocasionados pelo mundo globalizado.

CONCLUSÃO
A política externa europeia se apresenta de grande peso no teatro moderno de
guerra comercial, porém, ultrapassada pelos seus concorrentes sino-asiáticos e
estadunidenses. Faz-se, neste cenário, intrínseco divisor nas políticas tarifárias e terceira
via, ainda que muito dependente das manobras norte-americanas.
Ademais, a compreensão dos conceitos de Alexandre Kojève auxilia o
entendimento das atuais relações internacionais do continente, aprofundando as
inspirações das estruturas modernas existentes.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KOJÈVE, Alexandre. Outline of a Doctrine of French Policy. S.l: S.n, 1945.
HOWSE, Robert. Kojeve's Latin Empire: From the “End of History” to the “epoch of Empires”. Hoover Institution, 2004. Disponível em:https://www.hoover.org/research/kojeves-latin-empire. Acesso em: 02 set. 2025.
HURRELL, Andrew. Pax Americana ou o império da insegurança? Scielo Brasil, 2005. Disponível em:https://www.scielo.br/j/rbpi/a/wPYnv367TqYt4SRpJZWbq7r/?format=html&lang=pt#top. Acesso em: 02 set. 2025.
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