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A SECUNDARIZAÇÃO DA EUROPA NA POLÍTICA INTERNACIONAL E O IMPÉRIO LATINO DE KOJÈVE

PALAVRAS-CHAVE: Europa; União Europeia; Geopolítica; Século XX; Economia; Política;

Alexandre Kojève.


Alexandre Kojève em frente ao Monte Saint-Michel; Fonte: Expresso.pt
Alexandre Kojève em frente ao Monte Saint-Michel; Fonte: Expresso.pt

RESUMO

Este artigo visa análise dos estudos político-econômicos de Alexandre Kojève e o

reflexo destes na política externa da Europa em perspectiva geopolítica atual, explorando

os conceitos básicos de sua doutrina e estabelecendo relação à acontecimentos presentes

e históricos.


DO HEGELIANO IDIOSSINCRÁSICO

Alexandre Kojève, nascido em 1902 no então Czarado Russo, foi um político,

filósofo e professor naturalizado francês. Fez importante papel na economia francesa do

século XX, tendo participação nas negociações do país na Conferência das Nações Unidas

sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) e nos procedimentos principais do Plano

Schuman.

Destacou-se no âmbito político por sua interpretação das obras hegelianas, das

quais tomou grande inspiração, e posterior influência na República Francesa no pós-

guerra de 1950.


DA POLÍTICA FRANCESA E EUROPEIA

Kojève tem por início em Outline of a Doctrine of French Policy dois pontos que,

em visão do autor, viriam a se tornar tarefas de grande importância para a política externa

francesa: “segurança da neutralidade real durante uma possível guerra entre russos e

anglo-saxônicos e manutenção do poderio econômico e político, em contraste à

Alemanha, na Europa continental não-soviética” (KOJÈVE, 1945, p.3, tradução nossa).

Por este, o filósofo retrata o cenário de reconstrução do continente como marco

fatal da protagonização francesa, de mesmo modo europeia, e início de redução para

potência secundária nos trâmites internacionais. Assim, Kojève classifica que, para a

sobrevivência política do Estado moderno, este precisa de apoio de uma união imperial

de nações afiliadas.


“Seria vaidoso tentar manter a realidade política de qualquer nação por período prolongado em um mundo em que Impérios já subsistem: o Anglo-Saxônico – de fato, Anglo-Americano – e o Eslavo-Soviético. Até a nação alemã, por muito a mais poderosas das nações no sentido estrito, não pode mais conduzir uma guerra vitoriosa, assim sendo incapaz de se afirmar politicamente como Estado. [...] Destes termos, a Alemanha de amanhã terá de se clivar para um ou para outro desses Impérios.” (KOJÈVE, 1945, p. 8, tradução nossa).

Por deste modo, o filósofo interpreta os Impérios respectivamente às zonas de

influência da ordem bipolar da Guerra Fria. Determinando que, para a França, é preciso

ter um ideal político claro e conciso, movido a “repolitização” das manifestações

francesas, objetivado à superação destes círculos imperiais.


DO IMPÉRIO LATINO

Em determinação da sobrevivência da independência europeia, Kojève acreditava

que a afiliação entre Estados era necessária. Para impedir a assimilação anglo-saxônica,

o autor propôs o conceitual do Império Latino, um preâmbulo da União Europeia que

agiria como fonte imperial do continente europeu. Deste modo, determinou que as nações

latinas do mediterrâneo, França, Espanha, Portugal e Itália, formassem uma unidade de

esfera política.


“Em 1945, Kojève entendeu que qualquer tentativa de reconstruir a grandeza da França como Estado-nação seria delusional, dado a difícil realidade do poderio militar Anglo-Americano, assim como o fato soviético. O último decisivamente empurraria a Alemanha para o Império americano como proteção dos riscos de absorção pelos soviéticos. Kojève procuraria convencer De Gaulle que nenhuma nação no mundo contemporâneo poderia assegurar base adequada em poderio militar sem se aliar ou afiliar com outros Estados. Este foi, de acordo com Kojève, o motivo da queda de Hitler” (HOWSE, 2004, tradução nossa).

O Império de Kojève asseguraria base adequada para a prosperação da

sobrevivência política do Estado-moderno europeu, objetivado a reformar as sistemáticas

do jogo de poder das grandes potências do século XX e garantir cooperação mútua entre

as nações do continente.

Inspiraria a formação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço e, por

decorrência, do Mercado Comum Europeu em sua formação inicial.


DA UNIÃO EUROPEIA

Em vista da atual contemporaneidade, Alexandre Kojève representou o desejo

embrionário do destaque europeu em meio às grandes potências do bipolaríssimo e, não

obstante, com ideais contínuos até o multilateralismo global pós-Guerra Fria.

Destacou-se a importância da formação unitária do continente para a resistência

contra zonas de poder de capacidade global, em visão da manutenção de um sistema

político-econômico independente e capaz de exercer própria influência ultramarina.

Por disto, a União Europeia volta aos palcos de debate à procura de expansão

relutante, principalmente enfrentada, por um lado, pelo isolacionismo iliberal do governo

de Donald Trump nos Estados Unidos e, por outro, pelo histórico intervencionismo russo

a mando de Vladimir Putin. Tornando-se possível principal instrumento de esforços para

a destituição do hegemon norte-americano, realizando o sonho do Império Latino de

Kojève.

Em aspecto amplo, faz-se, pela queda da União Soviética em 1991, outro

obstáculo da doutrina kejeveiana, marcado pela República Popular da China e o controle

do mercado global. Nisto, destitui-se a realidade bipolar da época do autor e reitera-se a

complexidade multilateral do novo milênio, direta autoridade no papel europeu.

Sumariamente, os desafios da atual União se manifestam mais extensos e

financeiramente interligados, ocasionados pelo mundo globalizado.


Mapa de países integrantes da União Europeia; Fonte: União Europeia.
Mapa de países integrantes da União Europeia; Fonte: União Europeia.

CONCLUSÃO

A política externa europeia se apresenta de grande peso no teatro moderno de

guerra comercial, porém, ultrapassada pelos seus concorrentes sino-asiáticos e

estadunidenses. Faz-se, neste cenário, intrínseco divisor nas políticas tarifárias e terceira

via, ainda que muito dependente das manobras norte-americanas.

Ademais, a compreensão dos conceitos de Alexandre Kojève auxilia o

entendimento das atuais relações internacionais do continente, aprofundando as

inspirações das estruturas modernas existentes.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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