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GERAÇÃO Z NO NEPAL

Palavras-Chave: Nepal, Ásia, Protestos, Parlamento, Violência, Redes Sociais, Corrupção, Sharma Oli.


Le Monde, 2025
Le Monde, 2025

No dia 9 de setembro, essa última terça-feira, as mídias internacionais foram cobertas de ponta a ponta com os protestos violentos no Nepal, muitos já se aprofundaram no tópico e destrincharam tudo que ocorreu, como e por quais razões, porém nesse artigo, eu gostaria de seguir o exemplo e entender mais aprofundadamente o que ocorreu e principalmente o porquê dessa sequência de eventos ter decorrido.  


O que aconteceu? 

Apesar da mídia global ter acordado para a situação nepalesa apenas no dia 9 com os resultados violentos dos protestos, a história obviamente começou antes, e apesar de podermos atribuir um começo à essa narrativa em outros momentos, eu gostaria de voltar para fevereiro desse ano, quando o governo nepalês introduziu um projeto de lei visando regular as redes sociais de maneira perigosa, abrindo espaço para abusos claros de poder. No dia 25 de agosto o governo aprovou uma decisão dando 7 dias para todas as diferentes redes sociais apontarem representantes oficiais e registrarem-se de acordo com as leis locais.

Passados os 7 dias, apenas 5 redes sociais cumpriram com a exigência, entre elas o TikTok, assim, resultando no desligamento de 26 diferentes populares redes sociais no Nepal, incluindo, Whatsapp, Instagram, Facebook, Youtube e X.

Dessa forma, na segunda-feira dia 8, protestantes foram as ruas, majoritariamente jovens. Na capital, Kathmandu protestantes entraram em conflitos com as barreiras da polícia, na tentativa de invadir o parlamento, desse modo resultando em uma resposta excessivamente violenta e indiscriminada do governo, atirando contra protestantes, matando 17 pessoas, algumas com tiros na cabeça ou peito. Outras duas pessoas morreram na cidade de Itahari onde protestos também se tornaram violentos, e no todo, mais de 200 pessoas foram feridas gravemente ou levemente.

O protesto foi nomeado “Protesto da Geração Z”, dado o enorme número de jovens presentes, muitos dos quais compareceram vestindo uniformes escolares. De maneira abrangente, os protestos mesmo que motivados pelo banimento das redes sociais, foram um apelo não só contra essa questão, mas também a perseguição política, falta de liberdade de expressão, falta de confiança no governo, corrupção e uma guerra contra os Nepo Kids, usado para referir-se aos filhos privilegiados de políticos esbanjando dinheiro nas redes sociais, os quais a população acredita estarem utilizando dinheiro roubado dos bancos públicos, para sustentarem seus estilos de vida.

Ainda no fim da segunda-feira, o banimento das redes sociais foi retirado e rapidamente retornaram a operar normalmente no país, porém, a essa altura, isso não era mais o bastante. Na terça-feira os protestos continuaram, dessa vez os protestantes avançaram, queimando o parlamento em Kathmandu e atacando a casa de diversos líderes políticos pelo país, entra as quais, a casa do então primeiro-ministro, Sharma Oli, a qual foi incendiada também. Pouco depois Oli renunciou.

Os protestos continuaram até quando o chefe do exército em pronunciamento, anunciou a mobilização do exército às 10 da noite para encerrar o caos, uma vez que de acordo com o próprio, alguns indivíduos estavam se abusando da situação para causar danos extensivos à civis comuns e propriedades públicas. A terça-feira encerrou-se com mais 3 civis mortos, totalizando o número de vítimas para 22.

Sharma Oli, membro do partido comunista Nepalês, estava já em seu quarto mandato como primeiro-ministro e afirmou ter renunciado visando alcançar um acordo com os protestantes. O presidente Ram Chandra Paudel, afiliado com o partido independente que serviu como oposição na última eleição derrotando o partido comunista, convidou líderes dos protestos da geração Z para conversarem. 


Reflexões Sobre o Evento

Esse decorrer de eventos no Nepal pode ter sido uma surpresa inicialmente aqui no Brasil ou no Oriente como um todo, mas ao analisar mais atentamente o caso, podemos traçar algumas semelhanças com outras nações sul-asiáticas que também passaram por situações similares, como Sri Lanka em 2022 e Bangladesh em 2024. Igual ao caso Nepalês, Sri Lanka e Bangladesh protestaram contra governos corruptos que abusavam de sua população e assim resultaram em mudanças significativas em seus respectivos governos, buscando atender as vozes do povo. Apesar dos protestos no Nepal serem muito recentes, acredito ainda devemos esperar um pouco para analisarmos mais adequadamente esse evento e entender se as vozes populares foram completamente ouvidas no longo prazo.

Além disso, assim como Sri Lanka e Bangladesh, o Nepal possui uma população jovem muito significativa, o sul-asiático possui uma das populações que mais estão crescendo no mundo, no Nepal 56% da população tem menos de 30 anos, no Sri Lanka 30% e em Bangladesh 37%. Ao todo, o Nepal habita quase 30 milhões de pessoas, o Sri Lanka quase 22 e Bangladesh pouco mais de 170.

Desde sua liberação das mãos coloniais Britânicas em 1947, protestos marcados por estudantes e jovens de maneira geral, são uma tendencia clara no país. A história do Nepal é marcada por violência nas últimas décadas, entre 1996 e 2006 o partido comunista liderou uma guerra civil contra a monarquia que resultou em sua abolição em 2008 às custas de 10mil mortos durante o conflito.

Dada a sua posição geográfica, o Nepal é de relevante importância para o jogo político da região entre China e Índia, o antigo primeiro-ministro, do partido comunista, era (previsivelmente) tendencioso aos interesses Chineses, alguns especialistas acreditam o próximo no cargo será um independente como o presidente, assim aquietando os olhares chineses e indianos, uma vez que uma figura independente não penderia para nenhum lado excessivamente, afinal de contas, o Nepal possui uma relação amigável com ambas as potencias. 

Aljazeera, 2025
Aljazeera, 2025

Conclusões

No fim do dia, é difícil dizer se esses protestos realmente foram pelo bem da nação ou se foi tudo um grande exagero, pessoalmente, minha bússola moral não aponta para nenhum lado fortemente nesse caso, não possou um conhecimento extenso sobre a história Nepalesa, a maioria na verdade, descobri durante minha pesquisa para esse artigo.

As imagens e vídeos que surgiram dos protestos são extremamente alarmantes à primeiro olhar, queimar o parlamento não é nada pequeno, porém, do outro lado da moeda, 19 civis mortos, alguns à tiros na cabeça e peito, também é extremamente violento. Apesar do consenso me parecer ser a favor dos protestos, consigo entender um posicionamento mais passivo apontando os protestos como um “absurdo”.

O destaque nesse caso para mim é a questão juvenil, o próprio protesto ter sido nomeado “Protesto da Geração Z” é algo a meu conhecimento incomum, mesmo os casos mencionados no artigo, apesar de grande participação jovem, não ganharam tal nomenclatura nem nada similar, nas redes sociais diversos vídeos e notícias circulam em meios juvenis, onde memes, comparando o caso com series, animes e jogos, ganham mais atração do que fatos indagados e exatos.

Por fim, apesar da possível questionabilidade dos meios utilizados, é certo que algo havia de mudar perante os olhos da população. Como um estrangeiro, não muito próximo do tópico, posso apenas torcer para que o povo Nepalês encontre soluções satisfatórias para sua organização governamental, de maneiras pacíficas e democráticas no futuro. 

 

Referências Bibliográficas 

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DAHAL, Phanindra; ATKINSON, Emily; KHAN, Iftikhar. What we know about Nepal anti-corruption protests as PM resigns. BBC, [S. l.], p. 1-1, 9 set. 2025. Disponível em: https://www.bbc.com/news/articles/crkj0lzlr3ro. Acesso em: 11 set. 2025. 


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1 comentário


Daniel Cohen
Daniel Cohen
há 3 dias

Francesco, achei uma carteira de estudante na minha rua aqui no Jd Peri Peri. Acredito que seja sua. Aqui foi o único jeito de encontrá-lo. Vou deixar meu Instagram se quiser mais detalhes para vir buscá-la (@dj.cohen). Att Daniel

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