“JOGA QUEM QUER?": APOSTAS ONLINE NO BRASIL, DESAFIOS E IMPACTOS SOCIAIS

Palavras-chave: Apostas online, Bets, Vício em jogos, CPI das Bets, Regulamentação.

RESUMO: A crescente epidemia das apostas online no Brasil tem provocado um aumento significativo no mercado nacional e levantado preocupações relacionadas ao vício, endividamento e impactos sociais negativos associados a essa prática. No dia 13 de maio, foi realizada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, instaurada para investigar irregularidades e os efeitos sociais das plataformas de apostas. Através dessa audiência buscou-se problematizar os desafios regulatórios existentes e a necessidade de políticas públicas que conciliam a exploração econômica do setor com a proteção da saúde pública e dos direitos dos consumidores.

Agência de Notícias da Indústria, 2024

INTRODUÇÃO

Com a gamificação das apostas online, não só o Brasil, como o mundo todo vem presenciando um crescimento acelerado desse mercado, especialmente nas modalidades esportivas. Esse fenômeno, denominado popularmente como bets, vem gerando preocupação no âmbito social e político devido ao aumento dos casos de vício em jogos de azar, endividamento e outros impactos negativos na vida de seus usuários, principalmente jovens e pessoas em situação de vulnerabilidade social. Em resposta a isso, o Congresso Nacional instituiu a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, com o objetivo de investigar as práticas do setor, a publicidade direcionada e os efeitos sociais relacionados às apostas online.

DESENVOLVIMENTO

O crescimento das apostas online no Brasil está diretamente relacionado à popularização das mídias sociais, que facilitam o acesso a plataformas de jogos e apostas. Empresas do setor vêm investindo intensamente em publicidade, utilizando celebridades, blogueiros e influenciadores digitais para ampliar seu alcance e atrair novos usuários. Essa estratégia, por sua vez, contribui para a normalização do jogo como forma de entretenimento, muitas vezes sem o devido alerta sobre os riscos de dependência e prejuízos financeiros que um jogo de azar pode trazer.                                   

A instalação da CPI das Bets trouxe à tona denúncias importantes, como a ausência de mecanismos eficazes para impedir o acesso de menores de idade, a insuficiência de políticas de prevenção ao vício e a prática de publicidade excessiva e capciosa. A comissão revelou também que a ausência de regulamentação clara e a precariedade da fiscalização ampliam os riscos sociais e econômicos, ao mesmo tempo que evidenciou a forte influência do lobby das empresas do setor, que pressionam contra regulamentações restritivas que poderiam limitar sua expansão. Ainda, a problemática central reside no equilíbrio entre a exploração econômica das apostas online e a proteção da saúde pública. Por um lado, a regulamentação do setor pode formalizar um mercado já em expansão e até aumentar a arrecadação fiscal. Mas, por outro, sem políticas públicas integradas de prevenção, tratamento do vício e fiscalização, há um risco elevado de agravamento dos danos sociais, como o aumento do endividamento, da exclusão social e dos transtornos psicológicos relacionados ao jogo compulsivo.                                                                     

Sob essa ótica, se você estiver se questionando qual é a diferença entre as apostas online e os jogos de loteria, elas se distinguem principalmente pela dinâmica de participação e pela oferta contínua de jogos em tempo real, que permitem que o apostador faça múltiplas apostas rápidas e personalizadas a todo momento. Enquanto a loteria funciona com sorteios periódicos e regras fixas, geralmente com maior intervalo entre as apostas, as bets oferecem uma experiência interativa e imediata, com possibilidade de apostar durante o andamento das partidas, o que pode aumentar o risco de comportamentos compulsivos. Além disso, as plataformas online de apostas utilizam estratégias de gamificação e publicidade direcionada, fatores menos presentes nos jogos de loteria.                                                     

Ademais, o vício em jogos, pode, por exemplo, ser comparado ao vício em álcool, pois ambos envolvem um ciclo de busca constante por prazer imediato e alívio emocional, que acaba gerando dependência física e psicológica. Assim como o álcool altera o funcionamento do cérebro, levando a uma necessidade crescente da substância para evitar sintomas de abstinência, o jogo compulsivo ativa circuitos de recompensa semelhantes, incentivando o indivíduo a repetir a aposta mesmo após prejuízos financeiros. Em ambos os casos, a perda de controle e o impacto negativo na vida pessoal, familiar e profissional são evidentes, exigindo tratamento especializado e políticas públicas que previnam e amparem os dependentes. Por essa razão, a máxima “joga quem quer” não se sustenta na prática, justamente porque o vício compromete a capacidade de escolha consciente. Assim como um alcoólatra não consegue “beber com moderação”, um jogador compulsivo não tem discernimento para controlar o impulso de apostar. Fora que não há forma clara de identificar previamente quem possui predisposição a esse vício.

CONCLUSÃO

A epidemia das bets no Brasil representa um grave problema de saúde pública. O enfrentamento dessa crise requer a mobilização conjunta de órgãos governamentais e sociedade civil, já que se faz necessário a implementação de políticas públicas multidisciplinares que contemplem fiscalização e apoio social para reduzir os danos causados pelas apostas online e promover um ambiente mais seguro e saudável para a população brasileira.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

CINZENTO, Victor. CPI da Bets: existe um limite legal para influenciadores e suas publicidades? Terra, 1 jun. 2025. Disponível em: https://www.terra.com.br/byte/cpi-da-bets-existe-um-limite-legal-para-influenciadores-e-suas-publicidades,0166ad27062cce36821459458a9854ca9q5ajje3.html. Acesso em: 1 jun. 2025

CUNHA, Eduardo. BET's: SESI lança campanha alertando para os riscos das apostas online. Agência de Notícias da Indústria, 29 nov. 2024. Disponível em: https://noticias.portaldaindustria.com.br/noticias/saude-e-qualidade-de-vida/bets-sesi-lanca-campanha-alertando-para-os-riscos-das-apostas-online/. Acesso em: 2 jun. 2025.

ALVIM, JÔ. Apostas online: quando a diversão vira vício. G1 - Psicoblog, 2 out. 2024. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/blog/psicoblog/post/2024/10/02/apostas-online-quando-a-diversao-vira-vicio.ghtml. Acesso em: 4 jun. 2025.