108 Anos de Vinicius de Moraes, o poeta que levou a música para o Cenário Internacional
- João Vitor de Souza Santos
- 26 de out. de 2021
- 6 min de leitura

Resumo
Vinicius de Moraes foi um grandioso poeta, compositor, cronista, crítico de cinema e literatura, dramaturgo, diplomata e cantor. Foi responsável, juntamente com o maestro Antônio Carlos Jobim e o violonista e cantor João Gilberto, por revolucionar a música nacional, com a belíssima canção “Chega de Saudade", marco inicial da Bossa Nova, novo gênero musical que colocaria a música brasileira no cenário internacional. Também foi o compositor, junto com Tom Jobim, da canção brasileira mais tocada de todos os tempos, a famosa “Garota de Ipanema”, música não apenas consumida em alta escala no exterior, mas gravada também por grandes artistas internacionais, como o Frank Sinatra e a Amy Winehouse. Vinicius foi um dos responsáveis por criar a imagem do Brasil para o mundo. De levar nossas raízes e nossa cultura para fora das fronteiras, fazendo o planeta olhar para o Brasil com uma nova perspectiva.
Palavras-chaves: Vinicius de Morais. Bossa Nova. Música Brasileira. Internacionalização.
Abstract
Vinicius de Moraes was a great poet, composer, chronicler, film and literature critic, playwright, diplomat and singer. He was responsible, along with Antônio Carlos Jobim and the guitarist and singer João Gilberto, for revolutionizing national music, with the beautiful song “Chega de Saudade”, the initial landmark of Bossa Nova, a new musical genre that would place Brazilian music on the international stage. He was also the composer, along with Tom Jobim, of the most played Brazilian song of all time, the famous “Garota de Ipanema”, music not only consumed on a large scale abroad, but also recorded by great international artists such as Frank Sinatra and Amy Winehouse. Vinicius was one of those responsible for creating the image of Brazil to the world. To take our roots and our culture outside the borders, making the planet look at Brazil with a new perspective.
Key-words: Vinicius de Morais. Bossa Nova. Brazilian music. Internationalization.
Biografia
No dia 19 de outubro de 1913 nasceu Vinicius de Moraes, no bairro da Gávea, Rio de Janeiro. Filho do funcionário público, poeta e doutor em latim, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes e da pianista Lídia Cruz de Moraes. Vinicius cresceu em um ambiente cultural muito forte, fator que proporcionou para ele uma grande bagagem para suas futuras obras. Após completar o ensino médio, Vinicius entra para a Faculdade de Direito e ainda na adolescência participa de um grupo musical com os irmãos Paulo, Haroldo e Osvaldo. O grupo cantava em festas familiares e embora a duração da parceria musical não tenha sido longa, o grupo teve uma canção que conseguiu destaque, o fox “Loura ou morena”.
Em 1933 Vinicius publica seu primeiro livro de poemas, o “Caminho para a distância”, dois anos mais tarde, lança o livro “Forma e exegese”. Em 1938 é agraciado com uma bolsa do Conselho Britânico e viaja para a Inglaterra, onde inicia os estudos de literatura inglesa na Universidade de Oxford, embora no ano seguinte tenha sido obrigado a voltar para o Brasil, em decorrência do início da Segunda Guerra Mundial. Em seu retorno, Vinicius passa a trabalhar em jornais, escrevendo principalmente críticas cinematográficas. Em 1943 ingressa na carreira diplomática, três anos depois de passar no concurso do Itamaraty, e ocupa o cargo de vice-cônsul do Brasil na cidade de Los Angeles. Nesses anos vividos nos Estados Unidos, Vinicius se aprofunda ainda mais na sétima arte, o cinema, uma de suas grandes paixões. Viver próximo de Hollywood permitiu um convívio muito ativo com grandes atores e diretores de cinema.
Nessa conjuntura, Vinicius segue a carreira diplomática e ocupa diversos outros postos, até que em 1969 foi expulso, devido à promulgação do AI-5 pela ditadura militar brasileira, quando foi criada uma comissão no Itamaraty que recomendou a expulsão de 44 servidores. Sendo assim, entre eles estavam Vinicius de Moraes, que embora criticasse a ditadura, não foi expulso por motivos políticos, mas por ser um boêmio. Após o ocorrido, Vinicius passa a se dedicar exclusivamente à arte. Assim, ele passa a trabalhar intensamente em suas canções e poesias, construindo parcerias inesquecíveis, como a que fez com o Toquinho, um dos músicos que mais compôs e gravou com Vinicius, entre as suas canções mais famosas, “Tarde em Itapuã” e “Morena Flor”. Apesar de, por fim, buscar cuidar mais da saúde, com uma alimentação mais regrada, o poeta sofria de diversos problemas de saúde em decorrência da vida extremamente agitada e intensa, com muitas noitadas, bebedeiras e cigarros. O curioso é que ele fez poesia e música até seu último dia de vida, pois, após virar a noite com seu parceiro Toquinho, trabalhando em músicas infantis, veio a falecer. Por essas e outras que Carlos Drummond estava certíssimo quando disse certa vez que Vinicius de Moraes era o único poeta que vivia como poeta.
O texto que ganhou o Oscar
Em 1953, Vinicius serviu como segundo secretário na embaixada brasileira de Paris. Nesses anos, ele vai nutrir uma amizade com o Marcel Camus, cineasta francês que dirigiu um filme baseado na peça de teatro “Orfeu da Conceição”, texto escrito por Vinicius de Moraes para o teatro. O filme “Orfeu Negro” foi lançado no dia 12 de junho de 1959 na França e ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, representando a França em 1960, foi também a primeira produção de língua portuguesa que recebeu o Oscar.
O texto é baseado na tragédia grega do Orfeu e Eurídice, mas com um detalhe particular muito interessante, essa tragédia iria ganhar vida nos morros cariocas. O Orfeu da tragédia do Vinicius é um sambista que usa seu violão fantástico, místico e sedutor para encantar sua amada, a Eurídice. No entanto, a história do casal não são apenas flores, muito pelo contrário, existindo muitos empecilhos, pessoas interessadas na separação, além disso, existe obviamente a tragédia.
Foi a partir da peça de teatro e do filme que Vinicius inicia uma das suas mais famosas parcerias, com Tom Jobim. Os dois se encontraram pela primeira vez para produzirem as músicas do “Orfeu da Conceição”. O disco rendeu clássicos, como a canção “Se Todos Fossem Iguais a Você”. A dupla seria reconhecida mais tarde como os fundadores da bossa nova, junto com João Gilberto, com a música “Chega de Saudade”.
A segunda música mais reproduzida da história
A música “Garota de Ipanema” foi lançada no dia 2 de agosto de 1962, data que reuniu pela primeira vez no mesmo palco Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto, os três fundadores da Bossa Nova. O show aconteceu no restaurante Au Bon Gourmet, no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que o Itamaraty autoriza Vinicius de Moraes a se apresentar em um show, entretanto, havia algumas restrições, como o fato de que ele não poderia receber cachê e deveria usar terno e gravata obrigatoriamente.
A canção foi um grande sucesso nacional e internacional. No Brasil, foi gravada por grandes nomes, como Baden Powell, Os Cariocas, Dick Farney, Tim Maia, Elis Regina, entre outros. No exterior, Frank Sinatra, Louis Armstrong e Amy Winehouse foram as grandes vozes que gravaram a canção. Tanto a qualidade, como os nomes populares que interpretaram a música, fizeram de “Garota de Ipanema” um sucesso global, tanto que segundo o grupo Universal, empresa que administrava a comercialização da canção, ela foi a segunda música mais reproduzida da história, perdendo título de primeiro lugar para os Beatles, com a música “Yesterday”.
Conclusão
Vinicius de Moraes tem uma obra vastíssima, com peças de teatro, poesias, sonetos, canções, prosa, crítica cinematográfica e literária. Ele contribuiu para a consolidação e divulgação da cultura brasileira. Com textos e composições de sucesso, Vinicius levou o Brasil para lugares extremamente longínquos, como o Japão, por exemplo, um dos países que mais consumiu a Bossa Nova, a música de exportação brasileira. Vinicius construiu uma imagem nacional que não apelava apenas para o erotismo, a criminalidade, o autoritarismo, as belezas naturais ou o futebol. Mas uma imagem de um país com cultura de qualidade, com canções sofisticadas e profundas.
Referências Bibliográficas
BOSI, Alfredo. “História da Literatura Brasileira”. Editora Cultrix. 52° edição. São Paulo. 2017. Acesso em: 20 out. 2021
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RICUPERO, Rubens. “A diplomacia na construção do Brasil”. Versal Editores. 1° edição. Rio de Janeiro. 2017. Acesso em: 20 out. 2021
SEVERIANO, Jairo. “Uma história da música popular brasileira”. Editora 34. 4° edição. São Paulo. 2017. Acesso em: 20 out. 2021
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