A Comunidade Indígena na Bolívia e a Comemoração de Ano Novo Andino Diante do Cenário de Pandemia
- Thaís Thatiana Silvério e Camilly Lima de Araújo
- 19 de jul. de 2021
- 8 min de leitura

Raldes, Aizar. 2021
Resumo
A nação da Bolívia é considerada uma das mais pobres da América do Sul, com uma trajetória muito conturbada com crises econômicas e golpes de Estado. O novo governo de Luis Arce terá um grande desafio devido ao Coronavírus e já existem projetos e promessas para chegar em uma Bolívia com menor desemprego e insegurança alimentar.
A Bolívia é o único país da América do Sul cuja população é formada por cerca de 60% de indígenas, portanto muitos feriados são celebrações desse povo, incluindo o ‘Ano Novo Andino’, que representa a recepção ou a chegada de novas energias do cosmos junto ao retorno do sol, em 21 de junho, sendo o primeiro dia de inverno no Hemisfério Sul.
Palavras-chave: Bolívia; Ano Novo Andino; América do Sul; Indígenas.
Abstract
The nation of Bolivia is considered one of the poorest in South America, with a very troubled trajectory, full of defeats, health crises and coups d'état. Luis Arce's new government will have a great challenge still due to the Corona Virus and there are already projects and promises to reach a Bolivia with lower unemployment and food insecurity.
Bolivia is the only South American country whose population is 60% indigenous, so many holidays are indigenous celebrations, including the Andino New Year, which represents the reception or arrival of new energies from the cosmos with the return of the sun, every 21st of June, the first day of winter in the Southern Hemisphere.
Keywords: Bolivia; Andino’s New Year; South America; Indigenous.
Introdução
A América Latina está se tornando palco de um período de mudanças importantes no contexto político e jurídico, refletindo principalmente na adoção de reestruturação Constitucional que reafirme o direito à identidade e à diversidade cultural.
Diante dessas transformações, no ano de 2009 após referendo popular, a Bolívia garantiu a autonomia indígena, reconhecendo definitivamente essa população como parte da sociedade e intitulou o Estado como Unitário Social de Direito Plurinacional Comunitário.
Diante a pandemia da COVID-19 os países da Comunidade Andina vivenciaram dificuldades no sistema de saúde público para auxiliar na demanda desse ciclo. Com a alta desigualdade social e o índice de pobreza, o isolamento não surgiu efeito devido a necessidade de operários continuarem trabalhando em áreas informais, e desta maneira, ficarem impedidos de permanecerem em quarentena. Por consequência, o número de infectados e óbitos pelo vírus aumentou exponencialmente.
Em virtude desse enfrentamento, às comemorações do Ano Novo Andino Amazônico, comemorado no dia 21 de junho, foram suspensas em 2020. Entretanto, a Bolívia retomou a tradição neste ano e foi realizada no complexo arqueológico de Tiwanaku e em outras 200 regiões sagradas do país, com oferendas a Pachamama (Mãe Terra) e Tata Indi (Deus Sol). A celebração solene contou com a presença do presidente Luis Arce e de alguns ministros.
Referencial Teórico
Algum tempo atrás, no século XV, a região atual da Bolívia desenvolveu várias civilizações indígenas dominadas pelo Império Inca, que não demorou para ser escravizado pelos espanhóis. O país conquistou sua independência em 1825, sendo uma das primeiras colônias espanholas a se rebelar com a liderança de Simón Bolívar – sendo ele o primeiro presidente boliviano – e por esse feito a Bolívia adotou o atual nome em sua homenagem.
Nos primeiros anos do país republicano, os impostos pagos pela população indígena através do envio de mão-de-obra foram essenciais para a estabilidade do Estado.
O espanhol é a língua popular do país em destaque, seguido do quéchua – população que vive nos vales – e dos aymaras – que são a segunda maior comunidade indígena e habitam na região do Altiplano boliviano. Com a invasão espanhola houve uma fragmentação das Confederações Aymaras, ainda que parte de seus senhorios tenha contribuído no combate contra o exército Inca. A partir disso o governo colonial passou a reconhecer a independência desses grupos.
Assim como outros países do continente da América do Sul, a Bolívia é um território de contrastes diante dos direitos econômicos, sociais e culturais, incluindo também a subdivisão geográfica, política e étnica. É necessário ressaltar a divisão entre os povos das Terras Altas às Terras Baixas: as Terras Altas ocupam a parte ocidental da Bolívia e envolvem a região andina que é cortada pela Cordilheira dos Andes, incluindo cidades como La Paz, El Alto, Cochabamba e Potosí.
Já as Terras Baixas são formadas pelos guaranis e outras 33 povoações que englobam a região norte e oriental compreendida nos espaços florestais, dos pampas e semiáridos de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija, e representam uma minoria demográfica.
O Estado boliviano enfrenta problemas raciais e culturais e, historicamente, sofreu muitas revoluções, golpes militares e guerras, onde perdeu seu acesso ao mar para o Chile precisando ceder um outro pedaço do seu território ao Paraguai; além disso também sofreu a perda do Acre e uma parte ocidental do Mato Grosso para o Brasil.
A nação é considerada uma das mais pobres da América do Sul, com uma alta taxa de analfabetismo e o terceiro menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Segundo dados da ONU, este é o país latino-americano com maior índice de violência machista e o segundo em violência sexual.
Em novembro de 2020 quem assume o cargo de presidência da Bolívia é Luis Arce, ex Ministro da Economia, que ao chegar ao poder precisou tomar medidas contra o tempo a fim de enfrentar a pandemia da COVID-19, afirmando que “No segundo trimestre de 2020, a Bolívia registrou uma queda de mais de 11% do PIB da economia, algo que não vivíamos desde 1953”.
O Governo que o atual presidente herda está em uma crise e precisará, de acordo com Von Vacano, procurar as associações público-privadas e casos dispostos a trabalhar nas reservas sem privatizá-las – que seria uma importante fonte de rendimentos tributários.
Visando melhorar a economia do país, Arce planeja deixar de pagar a dívida externa por dois anos com o intuito de economizar mais de 1,6 bilhão de dólares e procurará apoiar os três setores que mais criam empregos: a manufatura, a agricultura e o turismo interno. Esse plano econômico visa transformar o primeiro setor no principal ator da economia para garantir empregos e a segurança alimentar em meio a pandemia.
Em 2005, o atual governador da época, Carlos Mesa, declarou essa celebração como Patrimônio Imaterial, Histórico e Cultural do país, e após quatro anos, o presidente Evo Morales o converteu em feriado nacional. Em controvérsia, no mandato de Jeanine Áñez – advogada e apresentadora de televisão –, a política publicou alguns comentários sobre a população indígena por meio das redes sociais dizendo que essa festa de Ano Novo é “satânica” e que “ninguém pode substituir a Deus”. Essas publicações no Twitter foram descritas como “racistas” pelo site de notícias/mídias The Guardian, “anti-indígenas” pela Agence France-Press, e “provocativos” pelo jornal The New York Times.
A pandemia se propagou exponencialmente visto que a maior parte de trabalhadores dos países andinos operam no setor informal, posto isto estariam impossibilitados de se manterem em isolamento. A Colômbia e o Peru apontam mais de 800 mil casos infectados pelo vírus, e a Bolívia, junto com outros dois países integrantes da Comunidade Andina, Equador e Peru, estão inseridos na lista mundial dos 10 países com mais óbitos por COVID-19, devido um sistema de saúde precário, segundo dados do Organismo Andino de Salud (ORAS-CONHU).
Os países em análise apresentaram maior crise no tratamento da doença em pacientes de casos mais complexos. Os cidadãos peruanos, por exemplo, sofreram um colapso no sistema de saúde para arrecadar oxigênio, e enfermos com menos probabilidade de sobrevivência não conseguiram acesso a todos os fármacos.
A Comunidade Andina (CAN) sofreu novas instabilidades políticas, como a rebelião contra a polícia que surgiu na Colômbia e a inconstância eleitoral que intensificou na Bolívia, devido a problemas econômicos e sociais, resultando em um cenário caótico. Assim, com o intuito de aumentar a economia interna dos países e alcançar uma maior união durante o déficit mundial, decretaram novos critérios para amparar o comércio intracomunitário. Novas estratégias dos Andinas também foram exibidas pelo Secretário-Geral da CAN para trabalharem no pós-pandemia.
No início da década de 1980, quando floresceram os movimentos de defesa das identidades indígenas, nasceu uma celebração ao novo ciclo agrícola intitulado ‘Ano Novo Andino’. Ela foi modelada com base nas antigas tradições locais e é realizada em 21 de junho, o primeiro dia do inverno no Hemisfério Sul. Em 2005, o governador da época, Carlos Mesa, declarou essa celebração como Patrimônio Imaterial, Histórico e Cultural do país, e após quatro anos, o presidente Evo Morales o converteu em feriado nacional.
Em controvérsia, no mandato de Jeanine Áñez – advogada e apresentadora de televisão –, a política publicou alguns comentários sobre a população indígena por meio das redes sociais dizendo que essa festa de Ano Novo é “satânica” e que “ninguém pode substituir a Deus”. Essas publicações no Twitter foram descritas como “racistas” pelo site de notícias/mídias The Guardian, “anti-indígenas” pela Agence France-Press, e “provocativos” pelo jornal The New York Times.
Devido à pandemia e suas restrições, no ano de 2020 o evento não foi oficial apesar de Áñez ter saudado a cerimônia. As celebrações do novo ciclo agrícola retomaram no ano de 2021 no complexo arqueológico de Tiwanaku localizado a 75km de distância da capital La Paz e contou com a presença de sacerdotes da nação indígena e do presidente Luis Arce.
No rito, a população aguarda pelo nascer do sol em vigília solene em gratidão à Pachamama (mãe terra) e Tata Inti (deus do sol). Além disso, o ano novo também é comemorado em outros países membros da comunidade andina, como Peru, Chile e Argentina, representando o início do ciclo agrícola.
Considerações Finais
A Bolívia é um país com muitas conturbações e perdas, de territórios, mares, povos e cultura. Suas guerras, golpes de Estado e revoluções, além de graves problemas econômicos, sociais e raciais, a tornou uma das nações mais pobres da América do Sul, com mais violência machista e o segundo em violência sexual.
Contudo, é o país que mais cresce na América do Sul, está há mais de uma década crescendo a uma média anual de 5% – muito superior à dos Estados Unidos e à dos países sul-americanos. Mas, a pandemia da COVID-19 fez com que isso desacelerase e muitas propostas e metas foram estabelecidas pelo novo presidente, Luis Arce, que conta com empresas externas e com a Sociedade Internacional para voltar à sua condição crescente.
Com a região atual da Bolívia contendo várias civilizações indígenas, isso causa grande influência sobre o país, incluindo em seus feriados e celebrações. No presente artigo destacamos o Ano Novo Andino que é um momento de reverência ao Sol, seu deus maior chamado de Tata Inti, comemorado todo dia 21 de junho.
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