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A Guerra do Paraguai: Um Capítulo Sangrento da América do Sul




"Guerra do Paraguai: o maior conflito sul-americano"


Resumo


A Guerra do Paraguai é considerada o maior conflito já presente na América Latina, trazendo grandes consequências e poucas vitórias para os países que ali se inseriram. O objetivo do presente artigo é apresentar, se apoiando em perspectivas históricas, de forma breve e concisa, como a guerra se estruturou e as consequências que ela trouxe para a América Latina na totalidade, mudando o percurso de países que se desenvolviam anteriormente ao acontecimento e que depois, se viram em uma situação de pobreza constante dentro do sistema, como é o caso do Paraguai, mas não descartando os outros atores.


Palavras-chave: Guerra do Paraguai, América Latina, Império do Brasil, Inglaterra, Rio do Prata.



Abstract


The Paraguayan War is considered the biggest conflict ever to take place in Latin America, bringing huge consequences and few victories to the countries that took part in it. The objective of this article is to present, based on historical perspectives, in a brief and concise way, how the war was structured and the consequences it brought to Latin America as a whole, changing the course of countries that were developing before the event and that later found themselves in a situation of constant poverty within the system, as is the case of Paraguay, but not excluding the other actors.


Key-words: Paraguayan War, Latin America, Empire of Brazil, England, Rio do Prata



Introdução


Entre 1864 e 1870, Argentina, Uruguai e Brasil - formando a tríplice Aliança - estiveram em guerra com o Paraguai, no maior conflito da história da América do Sul: a Guerra do Paraguai. Por um lado, o Paraguai despontava como uma força que ameaçava os países da tríplice aliança, tendo como pano de fundo a principal via comercial e estratégica da tríplice fronteira: o Rio da Prata, indispensável para os países da região. O Paraguai de Solano López, não obstante, desejava avançar sobre o Rio da Prata, criando contendas com todos os países da região, chegando ao ponto de, em 1864, invadir o Brasil, dando início à mais sangrenta guerra da história da América do Sul.

Com a influência direta da Inglaterra - através de empréstimos e armamentos -, o conflito marcou o século XIX e pôs em xeque o futuro do equilíbrio de poder na região. De fato, após o conflito, viu-se que a tendência da região era um livre fluxo comercial no Rio do Prata, com os países compartilhando o direito sobre o rio, demonstrando uma situação de relativo equilíbrio. Estudar a Guerra do Paraguai é entender um cenário essencial para a integração sul-americana e o cenário político do século XIX na região.



Perspectivas históricas.


A Guerra do Paraguai possui variações em seu nome dependendo do local em que se coloca o foco na análise: no Brasil, Guerra do Paraguai, já na Argentina e Uruguai é chamada de Guerra da Tríplice Aliança ou Guerra Grande e, por fim, no Paraguai, a Guerra Contra a Tríplice Aliança. Sendo assim, no que tange a perspectiva histórica, o artigo trará uma breve perspectiva histórica, abarcando os fatores que estimularam a guerra e a guerra em si, para que posteriormente, tenha-se uma maior concepção das consequências que essa guerra brutal trouxe para suas partes componentes: Argentina, Brasil e Uruguai, que eram opostos ao Estado paraguaio.

Em relação ao surgimento e emergência do Paraguai no Sistema Internacional, dentro da América do Sul, o Estado se baseou em forças diferentes de seus vizinhos. Ao contrário deles, o Paraguai visava um desenvolvimento baseado em suas próprias forças, ou seja, autônomo. Era caracterizado por um isolamento e não possuía relações mercantis com outros países do exterior, não possuindo relações como empréstimos ou dívidas, por exemplo.

Já em relação à Guerra do Paraguai, esta seria considerada a mais cruel e avassaladora guerra da América Latina, trazendo consequências para todos os envolvidos, mas principalmente para o próprio Paraguai. O conflito engloba uma região de localização fortemente estratégica na região: a Bacia do Rio Prata, que possui parte de sua extensão na Argentina, Uruguai e Paraguai. Porém, foi considerada uma região palco de conflitos desde sua ocupação pelos ibéricos no século XVI, principalmente entre lusitanos, espanhóis, ingleses e franceses. No século XIX, período em que se baseia as perspectivas históricas apresentadas, a navegação marítima e fluvial eram os tipos de transporte predominantes nos países. Na medida em que a navegação a vapor se tornava mais presente, a Região da Bacia do Prata se tornava ainda mais importante e seus rios componentes, se tornavam ainda mais necessários: os rios Paraná, Paraguai, Uruguai e o próprio estuário do Prata.

Dessa forma, é nesse contexto em que se insere a forte importância da região: os países que ali viam seus interesses, eram interessados nessa forte presença de rios, devido ao incentivo ao comércio. Posteriormente, o Paraguai, ex-província do Vice-reinado do Rio do Prata, tomaria uma forte importância nesse contexto, especialmente a partir do governo de José Gaspar Rodríguez de Francia, dando à nação sua total independência, porém, pautada no isolacionismo.

Diferentemente do que muitos estudos traziam, a guerra não foi condicionada pelo imperialismo inglês. Era notório dizer que o país possuía um desenvolvimento econômico diferenciado dos outros países próximos, além de ser considerado uma ditadura com o governo de Francisco Solano López, a partir de 1862. Esse governo contribuiu fortemente para a eclosão do conflito, em seu governo ele focou em uma aproximação com os federalistas de Urquiza, adversários de Buenos Aires, que era capital do Vice-reino do Prata, e do partido dos blancos no Uruguai, que além de adversários dos argentinos, eram dos brasileiros também.

Essa aproximação com os blancos era ideal para o governo de Solano, pois garantiria uma saída para o seu Estado para o mar, através do território uruguaio. Entretanto, o próprio Uruguai vivia um período conflituoso pela disputa em seu governo entre blancos e colorados, estes governados por Venancio Flores e aqueles, por Bernardo Berro. Já no Império brasileiro, que não estava inserido na região do Prata, mas que exercia sua influência ali, tinha a população gaúcha o pressionando para que seus interesses na região uruguaia fossem atendidos (o Uruguai faz fronteira com o Rio Grande do Sul, e caso o partido blanco tomasse o governo uruguaio, dificultaria seus interesses na região). Sendo assim, o país guarani apoiou os colorados e ameaçou uma invasão militar caso os blancos tomassem o governo.

Já o Paraguai, ao ver que o Brasil ameaçava o partido que iria favorecer os paraguaios através de uma saída para o mar, trazia a ideia para os blancos de que caso os colorados tomassem o governo, o Brasil colocaria seus interesses sobre o território e possivelmente anexaria o Uruguai para cumprir seus interesses, e posteriormente poderia repetir o processo com o Paraguai, mas intervenção brasileira sempre se mostrou a atender seus interesses econômicos, e não expansionistas. Dessa forma, Solano López, em 1864, manda um ultimato para o Império do Brasil para que não interviesse no território uruguaio, porém em setembro do mesmo ano há a invasão brasileira sobre o Uruguai, colocando os colorados no poder. Como consequência, o governo de Solano López ataca o Brasil e em dezembro, a província brasileira do Mato Grosso foi invadida pelas tropas paraguaias, dando início a Guerra.

Por fim, vale salientar os principais acontecimentos e momentos no cenário que compõe o conflito, tais como o fato de que a guerra foi dividida entre a ação ofensiva por parte do Paraguai de Solano López e entre as ofensivas por parte da Tríplice Aliança, composta por Brasil, Uruguai e Argentina. Posteriormente à invasão paraguaia sobre o Mato Grosso, houve a ordem que o exército paraguaio invadiu também o Rio Grande do Sul e a província de Corrientes, que fez com que a Argentina entrasse para o cenário conflituoso, porém essas invasões não foram sucedidas, dando espaço para que a Tríplice Aliança tomasse um papel mais ofensivo. Grandes Batalhas como a Batalha Naval de Riachuelo e a Batalha de Curupaiti foram exemplos dessa ofensiva contra os paraguaios, e ao fim da guerra há a Batalha de Cerro Corá, em que Solano López é morto por soldados brasileiros, encerrando o conflito.



Consequências da Guerra do Paraguai


No que diz respeito à força militar brasileira, ocorreu uma mudança considerável: após a Guerra do Paraguai, especialmente a batalha de Riachuelo - uma das mais importantes do conflito -, a Marinha saiu como a principal força do corpo militar do império, se tornando um corpo político poderoso e com grande influência. Dentro desse cenário, o exército, no decorrer dos próximos 20 anos, se viu relativamente prejudicado, fomentando uma série de insurreições e culminando no golpe contra o império em 1889. Outra questão diretamente relacionada com o golpe de 1889 foi a luta pela abolição da escravidão, diretamente relacionada com a Guerra do Paraguai: muitos escravos foram enviados para a guerra com a promessa de sua liberdade se sobrevivessem e lutassem pelo Brasil, não obstante, muitos não conseguiram sua liberdade e os que conseguiram precisaram lidar com o fato de que seus familiares e amigos se mantinham em regime de escravidão, alimentando o movimento abolicionista.

As estimativas médias do número de mortos na Guerra do Paraguai foi de cerca de 300 mil, sendo, destes, 80% da população masculina paraguaia, revelando um saldo desolador de mortes dentro do Paraguai. Além disso, as capacidades produtivas e de comércio do Paraguai foram extremamente limitadas com a guerra, criando um cenário que ainda permanece de baixa capacidade competitiva por parte do país. Assim, grande parte da historiografia paraguaia coloca o Brasil como uma força imperial e expansionista que invadiu o Paraguai, destruiu suas capacidades produtivas e eliminou uma possível ameaça à hegemonia brasileira na região, tornando o Brasil uma fonte de ressentimento por parte do Paraguai.

O Paraguai perdeu territórios para os países da tríplice aliança e, mais do que isso, em decorrência de sua derrota e por ter sido considerado culpado pelo conflito, ficou devendo quantias volumosas para os países da tríplice aliança, como forma de compensação e indenização pelos danos da guerra. O revanchismo foi um sentimento presente, muito embora, dada a destruição provocada no país, não houvesse a capacidade do Paraguai se reorganizar em torno de combater os países e recuperar seus territórios. Ainda assim, o Uruguai perdoou a dívida de guerra em 1885, a Argentina em 1942 e o Brasil em 1943, livrando a região de um fardo histórico considerável.

Em termos sistêmicos, a principal consequência da Guerra do Paraguai foi a garantia da livre-circulação no Rio da Prata para os países da tríplice fronteira. Em suma, esse foi o objetivo da tríplice aliança, demonstrando que, de certo modo, tal aliança foi a vencedora, eliminando uma suposta ameaça para o livre trânsito de mercadorias em um dos principais rios do continente. Em suma, o equilíbrio entre os países retornou ao que era antes das tensões entre eles, permitindo o retorno do comércio e de relações diplomáticas mais estáveis.

A Inglaterra, interessada no comércio no Rio da Prata - o que só seria possível com o livre trânsito -, apoiou a tríplice aliança, com empréstimos e suporte com armamentos e suprimentos. Nesse sentido, a Inglaterra saiu vitoriosa, em termos estratégicos e financeiros, da Guerra do Paraguai, alcançando seus dois principais objetivos: comércio no Rio da Prata e empréstimos volumosos por parte dos países beligerantes. Não apenas isso, a Inglaterra foi um dos principais países que emprestou grandes quantias para a reconstrução do Paraguai, criando mais uma fonte de renda em decorrência da Guerra. Assim, a influência da Inglaterra na região se manteve consistente e o país continuou sendo um ator indispensável para se pensar a dinâmica da região.



Conclusão


A Guerra do Paraguai foi um evento ímpar na história da América do Sul. Com seu saldo altíssimo de mortes e com uma grande ameaça na manutenção do equilíbrio entre os países do prata, o conflito marcou a história do século XIX e definiu os rumos dos 4 países envolvidos. Destes, sem dúvidas, o mais prejudicado foi o próprio Paraguai, precisando lidar com um país devastado e com 80% da sua população masculina morta.



Referências Bibliográficas


DORATIOTO, Francisco. Maldita Guerra. 2002. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2002.


LIMA, Luiz Octavio de. Guerra do Paraguai. 2016. Rio de Janeiro: Editora Planeta, 2016.


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