A Recuperação Econômica da Potência em Decadência
- Bruna Dutra Ribas e Maria Thais R. Medeiro
- 9 de jun. de 2021
- 7 min de leitura

Douliery, Oliver.2021
Resumo: Esse trabalho pretende analisar as medidas de recuperação econômica do governo Biden no pós pandemia que busca a reestruturação interna do país em conjunto com a recuperação da hegemonia Norte Americana no sistema internacional se contrapondo à ascensão chinesa através de enormes investimentos estatais.”
Palavras-Chaves: Estados Unidos, China, Governo Biden, recuperação econômica, hegemonia.
Abstract: This article analyzes the economic recovery action in the post pandemic moment in the Biden's government searching to rebuild the country inside and outside with the North American hegemony in the international system opposing the China rise through the huge state investments.”
Key-Words: United States, China, Biden´s government, economic recovery, hegemony.
Após o final da Guerra Fria, momento que consagrou os Estados Unidos como a grande potência do sistema internacional, os americanos passaram as décadas seguintes sem nenhum inimigo ou ameaça a ser combatidos. Porém, no início dos anos 2000, com os ataques terroristas às torres gêmeas, coordenado pela Al-Qaeda como retaliação à atuação dos EUA em solo afegão e no oriente médio como um todo, o mundo assistiu a enorme fragilidade da maior potência econômica e militar do planeta ser escancarada, e ainda, por um grupo que não tem o mesmo alcance bélico em comparação com qualquer Estado.
É justamente a partir desse período que os americanos começam a perder espaço, e assim como escreve Duroselle, em Todo império perecerá, os EUA veem o título de grande potência hegemônica entrar em decadência. Da mesma forma que o Reino Unido perdeu seu posto de potência para os Estados Unidos, que por sua vez, retirou o título da França e assim sucessivamente, os americanos começaram a se preocupar com o crescimento e desenvolvimento de um rival econômico, que atualmente encontra-se a sua altura ou até mesmo em níveis superiores, nesse caso, os chineses.
Durante a década passada foi possível acompanhar a ascensão da China dentro do sistema internacional que transformou o país numa verdadeira potência, deixando para trás a imagem de um produtor de manufaturas de segunda qualidade ou um lugar ideal para a exploração de mão de obra “barata”, identificado agora como um Estado que investe em tecnologia e pesquisa. Nesse sentido, enquanto os americanos sentem o gosto da perda relativa de poder e de influência no mundo, os chineses passam a investir na indústria automobilística e mais recentemente no domínio do tão comentado e importante 5G através da gigante Huawei.
É evidente que o governo americano se preocupou em frear o avanço da China na economia mundial em diversos momentos, contudo, essas atuações ficaram mais visíveis e até mesmo mais duras, chegando a conter falas racistas, durante o último governo sob o comando de Donald Trump. O ex-presidente norte americano, ficou conhecido pela sua péssima atuação contra o coronavírus em meio ao momento que os EUA se tornaram o epicentro da doença, realizando uma série de acusações à China em relação a responsabilidade do país pela disseminação da doença, chegando até a chamar a COVID-19 de vírus chinês.
Além disso, por diversas vezes, Trump, acusou a OMS de ter corroborado com o governo chinês em esconder os erros da China na contenção do vírus em seu território e ainda de oferecer ao mundo as diretrizes incorretas no combate ao coronavírus, resultando na saída dos EUA da organização. Ademais, as tensões entre ex-presidente e o presidente Xi Jinping, não se restringiram ao momento inicial da crise causada pela pandemia, na verdade, ela se expande a disputa pelo mercado do 5G no mundo acusando a empresa chinesa de realizar espionagem minando a confiança dos outros países em relação á ela, no aumento das tarifas de importação do aço e minério de ferro conhecida como a guerra comercial, e claro em relação ao controle e influência em algumas regiões estratégicas como no Oriente Médio.
Com o fim da era Trump, após eleições conturbadas, que deixaram a democracia americana abalada internamente e também externamente em relação à confiança que o país passava para o mundo, Biden assumiu o governo num contexto muito delicado. A epidemia do coronavírus fez a economia americana desacelerar de forma brusca e ainda com a demora em dar uma resposta eficiente a maior crise sanitária dos últimos tempos, os EUA, ficaram para trás na contenção da COVID, já que deixaram de lado o multilateralismo ignorando as recomendações internacionais de especialistas da saúde, porém com a entrada de Biden, a situação se inverte completamente.
Bastou 112 dias de governo, para que o democrata anunciasse um ambicioso pacote de recuperação econômica para o país que abrangem três partes: uma espécie de auxílio emergencial para famílias que perderam suas fontes de renda por conta da pandemia, ajuda orçamentária para os estados e municípios, e investimentos em obras de infraestrutura para a geração de empregos. No total serão investidos US $6 trilhões de dólares, níveis de intervenção estatal que não ocorria desde a era Roosevelt, com o plano, new deal que investiu pesado na infraestrutura do país e em outras áreas visando a recuperação da economia após a grande depressão em 1929 com grande influência Keynesiana.
Diferentemente da década de trinta, o governo americano, não esperou três anos para tomar alguma atitude e responder à crise, as medidas foram apresentadas quase de forma imediata, na verdade, antes mesmo de ganhar as eleições Joe Biden já apresentava as ações para reverter o cenário negativo ainda em campanha eleitoral. Esse comportamento de urgência para resolver a situação econômica dos EUA não foi somente uma tática política de Biden, mas uma maneira de garantir a rápida recuperação dos americanos para conseguir se manter na posição de rival dos chineses objetivando recuperar seu posto de liderança no sistema internacional.
Nesse sentido, os enormes pacotes de estímulos econômicos oferecidos pelo governo, tem um objetivo claro de recuperação e de inovação, para não somente retornar a normalidade no pós pandemia, mas de ultrapassar a China em diversas áreas. Uma delas, é o investimento na fabricação de carros elétricos, e fontes limpas de energia, pois, atualmente a agenda internacional vem numa crescente em relação a necessidade de investir em medidas que protejam o meio ambiente e garantam o desenvolvimento sustentável, e dominar esses pontos é essencial para a política externa americana conseguir se restabelecer e escantear a China, pelo menos nesse aspecto.
Embora a ideia de Biden seja a recuperação da economia americana, a oposição fez diversas declarações contrárias aos pacotes de investimento estatal que seguem na contramão das políticas de austeridade adotadas desde o governo Reagan, que segundo integrantes do partido republicano poderia causar uma espiral inflacionária. Porém, o democrata continua reafirmando a necessidade de investimentos estatais, pois além de garantir a geração de empregos, o desenvolvimento e pesquisas na área tecnológica é a única forma de impedir o domínio da China em diversos mercados, como os já citados carros elétricos e energia limpa, do 5G e na futura, mas não tão distante, corrida pelo 6G.
Outro ponto que o novo governo pretende estimular, é o setor industrial do país, não é à toa, que o presidente visitou recentemente o estado da Pensilvânia, responsável por decretar sua vitória e ainda por ser um local que detém uma forte indústria. As medidas previstas para reaquecer o setor, é dar prioridade aos produtos produzidos internamente, plano denominado de made in America, visa comprar da indústria nacional os recursos necessários para as obras de infraestrutura que serão realizadas, assim como foram priorizados a compra de equipamentos da saúde americanos, durante o combate ao coronavírus.
Com todos esses planos de investimento na economia, boa parte do dinheiro que compõem esse pacote, seria proveniente do aumento da taxa de impostos corporativos, medida que não é bem vista pela oposição, principalmente se levado em consideração a redução fiscal que foi concedida ao setor durante o governo Trump. Mesmo enfrentando resistência, Biden insiste em frisar que é preciso fortalecer a classe média americana com essas medidas, disponibilizando dados e informações que comprovam seu crescimento contínuo, já que não existe qualquer possibilidade de perda econômica da classe mais rica do país, almejando garantir uma economia mais forte, resistente e inovadora de acordo com as próprias palavras do presidente.
Por fim, é possível identificar nas falas e medidas tomadas pelo atual governo americano que a recuperação econômica é o principal objetivo. É claro, que a inesperada crise sanitária que atingiu com força o mundo todo é uma das razões centrais, entretanto, esses investimentos estão ganhando esforços para além dessa situação de crise, é um ato de longo prazo, pensado para competir de forma igual ou superior com os chineses, seja despontando como liderança na agenda global sobre medidas mais sustentáveis e no combate às mudanças climáticas, seja no fortalecimento da indústria nacional, ou no incentivo ao desenvolvimento e pesquisa tecnológica. De qualquer maneira, os americanos enfrentam um rival à sua altura que poderá ou não ser neutralizado e enfraquecido, tudo dependerá dos erros e acertos de ambas as partes.
Referências Bibliográficas
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Trump anuncia que iniciou retirada formal dos EUA da OMS. G1 Portal de Notícias, 07 de julho de 2020. Acesso em 30 de maio de 2021. Disponível em < https://g1.globo.com/mundo/noticia/2020/07/07/trump-vai-retirar-formalmente-os-eua-da-oms-diz-agencia.ghtml>
Biden tenta promover o 'made in America' desejado por Trump. UOL Economia, 25 de janeiro de 2021. Acesso em 30 de maio de 2021. Disponível em <https://economia.uol.com.br/noticias/afp/2021/01/25/biden-tenta-promover-o-made-in-america-desejado-por-trump.htm>
Biden defende seu plano de investimento em infraestrutura para competir com a China. Jornal Estado de Minas, 06 de maio de 2021. Acesso em 30 de maio de 2021. Disponível em <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/05/06/interna_internacional,1264185/biden-defende-seu-plano-de-investimento-em-infraestrutura-para-competir-com.shtml>
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