A supremacia branca no governo Trump
- Bruna Dutra
- 1 de out. de 2021
- 6 min de leitura

Resumo
O presente artigo, busca analisar a ligação do governo Trump com grupos de supremacistas brancos. Nesse caso, mais especificamente a Ku Klux Klan, que ainda atua nos EUA embora, que seja de forma
Introdução
Nos últimos anos, foi percebido um levante, uma espécie de ressurgimento de grupos extremistas de cunho racistas em todo o mundo, mas principalmente nos EUA. Apesar de ser considerado um país desenvolvido, os Estados Unidos enfrentam diversos problemas sociais em relação ao racismo presente no Estado americano desde sua formação como nação.
Não por acaso, durante toda a sua história, os americanos viram seu território ser palco de disputas por espaços e representatividade entre os povos brancos de origem europeia e os negro ex-escravos. Desde a época da guerra civil, os EUA, assistem grupos racistas surgirem numa tentativa extremamente agressiva e criminosa de reter as conquistas legítimas e vitoriosas dos afro-americanos, um claro exemplo é a Ku Klux Klan.
Embora seja uma organização que se originou no final da guerra de secessão, atualmente, houve um crescimento elevado em relação aos “valores”, ideias, e rituais sendo replicados ao redor dos EUA. Esse ressurgimento não é aleatório, mas fruto do descontentamento da população norte-americana, que resolveu apostar suas fichas num candidato “outsider” com discurso controverso e preconceituoso travestido de defensor dos valores tradicionais, nesse caso, Donald Trump.
O nascimento da Klan
Em 2016, os EUA passaram pelas eleições presidenciais disputadas pela candidata democrata Hillary Clinton e o republicano Donald Trump. Com a vitória do empresário e já conhecido do grande público, Trump, era famoso não por ser uma figura política, mas pelos empreendimentos milionários de sua família que o fez famoso por herdar e presidir todo esse patrimônio.
Embora o ex-presidente americano já fosse uma pessoa controversa devido às suas atitudes e falas preconceituosas, quando se tornou candidato à presidência esses casos ganharam maior notoriedade. Não é preciso fazer muito esforço para resgatar que os grupos de maior apoio ao governo, sua base eleitoral, os supremacistas brancos, que na verdade, são constituídos por membros da Ku Klux Klan e americanos da extrema-direita racista.
Apesar do grupo ter surgido no contexto da guerra civil americana, o “KKK” popularmente conhecido, ainda atua no país embora de forma muito enfraquecida e bem vigiada pelo governo americano. Por conta do histórico da guerra de secessão, a sociedade americana, tem feridas profundas em relação ao racismo sistêmico existente, que é resultado do fim da guerra em questão colocando um ponto final na escravidão mesmo com os estados do Sul se mantendo contrários.
É evidente que o sentimento de contrariedade por parte dos Estados seccionados era grande, e com a libertação dos escravos, a sensação de perda torna-se ainda maior. Além da questão econômica, e de organização social, houveram questões etnocêntricas em relação ao homem branco e negro americano, agora liberto. O preconceito, e a defesa de que os ex-escravos eram inferiores, permearam o imaginário de vários americanos por muito tempo, não é por acaso que as políticas de segregamento tenham durando até a década de 60.
Os valores da KKK e de Trump
Um dos maiores símbolos do descontentamento, e claro, do racismo da sociedade americana, é justamente a Ku Klux Klan. A organização, realizou atrocidades desde sua primeira fase, no momento final da guerra civil, depois na sua segunda fase que se concentrou em abafar as lutas e manifestações por direitos civis igualitários para os negros, e por fim a fase atual, que pode ser considerada como um “renascimento”. Esse novo período se deve ao descontentamento dos americanos em relação ao governo Obama, que apesar de diversos pontos positivos, ainda sofria os efeitos da crise de 2008.
Inclusive, a eleição de Donald Trump, representa exatamente a frustração em relação às taxas de desemprego na própria classe média americana. Pois, um dos seus pontos principais de campanha, o MAGA, sigla de “Make Amerian Great Again”, trata sobre esse aspecto delicado para a economia americana, a falta de crescimento. Além disso, nesse mesmo conceito é trazido novamente à tona questões raciais, uma vez que, fazer a América grande outra vez remonta a ideia de um período de grandeza na qual a população afro-americana não tinha tanta participação e representação ativa.
Não é por acaso que o maior contingente de votos, que foram decisivos na vitória de Trump tenham como origem os supremacistas. Segundo o próprio David Duke, uma das figuras mais famosas por ter sido filiado ao Ku Klux Klan, afirmou que foi “o esmagador voto branco” que colocou Trump na Casa Branca. Mesmo que o ex-presidente norte-americano tenha classificado grupos como a KKK e o movimento Antifa como grupos terroristas, é inegável que esse grupo o apoiou.
A agressividade e perigo dos supremacistas
Em vários momentos, as tensões raciais na sociedade americana fiaram muito altas, a ponto de estourarem protestos em prol da vida dos negros, que cotidianamente estão expostos a um grau muito mais levado de violência. O Black Lives Matter e outros protestos espalhados pelo país, como a reivindicação para a retirada de um monumento de uma figura considerada um símbolo racista, no caso a estátua do ex-general da guerra de secção dos estados do Sul, tiveram uma repercussão acentuada tanto para apoiadores quanto para os críticos.
Um dos resultados, foi uma manifestação racista que ocorreu numa pacata cidade dos EUA. Em Charlottesville, diversas pessoas se encontraram no local para acender tochas, marchar, e gritar palavras de ordem remontando cenas de um período de atividade da KKK. A cena escabrosa, foi protagonizada por grupos racistas, supremacistas, neonazistas que se autodeclaram preconceituosos usando o famoso capuz e roupas inteiramente brancas, porém, usando o disfarce de que as ações seriam uma tentativa de “unir a direita”.
Como se não bastasse toda a simbologia racista, muitos dos participantes desse movimento, estavam fortemente armados e vestidos com suásticas, o que é claramente uma apologia aos tempos sombrios do nazismo com a intenção de coagir. Além disso, em outros protestos em Washington, houve um homicídio quando um neonazista atropelou diversas pessoas que estavam se manifestando contrariamente á violência policial com a população negra. Essa é mais uma representação, do quão violento e perigoso, os grupos supremacistas apresentam para a sociedade como um todo.
A volta fortificada de cenas horripilantes e de pessoas gritando palavras de ordem racista sem nenhum tipo de pudor, se deve ao apoio que Trump deu a esses grupos, quando em suas ideias e discursos abriu espaço para muitas outras pessoas se identificarem e replicarem atos racistas sem preocupações. Ademais, mesmo antes de se tornar presidente, o republicano, já passou por diversos julgamentos e acusações de racismo, como no caso em que uma de suas empresas de locação de imóveis fazia segregação em relação a disponibilidade de contratação do serviço entre clientes brancos e negros.
Sendo assim, o histórico familiar e até mesmo pessoal de Trump, fez com que muitas pessoas racistas participantes de grupos supremacistas se identificassem com o ex-candidato à presidência. Pois, segundo o próprio Duke, ter pessoas como Donald Trump em postos altos da política representa o retorno “aos bons tempos”, que significa regredir a momentos de segregação racial nos EUA, já que, o tanto o ex-presidente quanto seus apoiadores supremacistas se apoiam nos mesmos princípios.
Conclusão
O governo de Donald Trump, foi marcado por diversas controvérsias, e principalmente pela condução desastrosa da pandemia do COVID-19. Além disso, seu governo representou a volta de grupos racistas que aparentemente estavam escanteados e esquecidos, retornando com uma roupagem de suposta defesa dos valores tradicionais que estariam conectados com a direita americana.
Contudo, mesmo que a insatisfação da população em relação à economia, e as altas taxas de desemprego, e perda do poder de compra, fossem motivações legítimas para reclamar e querer mudança, o movimento acabou guinando para uma extrema-direita completamente radical e em alguns setores criminosos. Nesse quadro, é possível identificar a Ku Klux Klan e diversos outros grupos neonazistas e supremacistas que compõem boa parte dos apoiadores da “Era Trump”.
O retorno de ideias, ações, e de grupos extremistas aos holofotes nos EUA, é algo preocupante, por tudo aquilo que defendem e pregam. Mais do que só ideias e palavras, esses grupos apresentam ameaças reais à vida de muitas pessoas, já que, eles se apresentam de forma agressiva e criminosa como foi mencionado nos protestos em Washington e em Charlottesville. Por fim, mesmo que o mandato de Trump tenha acabado, e Biden tenha assumido o posto da presidência, o ressurgimento desses grupos está longe de ser apagado.
Referências Bibliográficas
DAVID Duke, ex-líder da Ku Klux Klan: “Trump nos empodera”. El país. Washington, 2017. Disponível emhttps://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/19/internacional/1503174397_882413.html?fbclid=IwAR1qtzRv7YSkoLM_MHBkEHs5cPW-NskrNuU3ItJH4B84bYu5iy2JoogvYYo
PAI, de Trump foi preso em ato da Ku Klux Klan na década de 20, mostram arquivos da época. OUL. São Paulo, 2017. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2017/08/15/pai-de-trump-foi-preso-em-ato-da-ku-klux-klan-na-decada-de-20-mostram-arquivos-da-epoca.htm?fbclid=IwAR1Qp6C-4gv2EBvluVplpvvQvLX8DasOEHLnHVeGILDxjupUyOgUHr34hjw
SENRA, Ricardo. ‘Sou, nazista sim’: o protesto de extrema direita dos EUA contra gays, negros, migrantes, e judeus. BBC. Brasil, 2017. Disponível emhttps://www.bbc.com/portuguese/internacional-40910927
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