IMPACTO DAS QUEIMADAS NO BRASIL: ANÁLISE DA RELAÇÃO COM O AGRONEGÓCIO
- Samantha G. D. Santos
- 1 de out. de 2024
- 4 min de leitura
RESUMO:
É de conhecimento geral que as queimadas no Brasil são uma problemática recorrente na história do nosso país. Embora sua origem tradicionalmente descenda de causas naturais, por conta do tempo seco durante o verão ou descargas elétricas em áreas mais áridas, como o Cerrado, a parte mais expressiva desses incêndios ocorre devido à ação humana, seja de forma intencional ou não.
Nos últimos meses, presenciamos o Brasil especialmente os estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso enfrentando diversos focos de incêndio. Não só isso, como a cidade de São Paulo registrou a pior qualidade de ar do mundo por alguns dias consecutivos de acordo com o site de monitoramento IQAir. Diante desse cenário, surge o questionamento: o crescimento econômico gerado pela expansão agropecuária justifica os prejuízos ambientais causados pelas queimadas?
PALAVRAS-CHAVE: Agronegócio; Queimadas; Incêndios; Desmatamento; Biodiversidade; Seca; Fogo;

DESENVOLVIMENTO:
Como dito anteriormente os incêndios florestais ganham destaque em períodos mais secos por conta da baixa umidade do ar. Essa temporada de fogo, que vem sendo a maior seca da história do país desde 1950, vem sendo agravada também pelo aquecimento global que intensifica a frequência de secas no país e consequentemente compactua com as mudanças climáticas no território.
Por um lado, é possível afirmar que o agronegócio desempenha um papel fundamental na economia brasileira, o setor inclui atividades de produção agrícola, pecuária, insumos e commodities. Uma pesquisa feita pela USP no Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Departamento de Economia, Administração e Sociologia (ESALQ) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, de julho de 2024 afirma que o agro corresponde a quase de ¼ do PIB do Brasil. Não só isso, como também, é um ambiente que gera milhões de empregos por ano, e é um dos alicerces do comércio exterior brasileiro devido às exportações de seus bens e produtos. Por conta disso, não podemos negar sua importância, contudo, em nenhum momento devemos deixar de problematizar essa cadeia de produção.
Devido a limpeza das áreas para o cultivo e pastagem, o fogo é usado como ferramenta para a limpeza da terra após o desmatamento. Essas queimadas controladas são uma técnica agrícola bem popular, mas quando mal gerenciadas podem se transformar em incêndios maiores que se estendem para fora da área de contenção.
Alguns dos outros problemas em potencial relacionados ao agronegócio são os conflitos agrários e os impactos ambientais relacionados à emissão de gases, efeito estufa e desmatamento. Sabemos também que politicas que enfraquecem a fiscalização ambiental e a proteção de áreas florestais favorecem a ação de madeireiros, o desmatamento ilegal e acaba facilitando as práticas de queimadas ilícitas e por consequencia a degradação ambiental, que também afetam diretamente os animais presente nesses ambientes.
Essas são algumas das adversidades que seguem sem solução mesmo após incisivos procederes do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima. Tudo isso, afeta diretamente o equilíbrio ecológico e a biodiversidade dessas áreas.
Por conseguinte, a população vem enfrentando as consequências desse desequilíbrio ambiental com a recente alta na demanda de serviços de saúde. A inalação de gases tóxicos liberados pela fumaça das queimadas podem provocar doenças cardio respiratórias, como bronquite e asma e pessoas com condições crônicas como doenças pulmonares podem sofrer crises ou agravamento de seus sintomas devido a má qualidade do ar. Além disso, o excesso de fumaça vem causando irritação nos olhos, inflamação na garganta e tosse entre os adultos, enquanto crianças têm uma maior predisposição a infecções respiratórias.
Portanto, é possível notar que esses incêndios não afetam somente o meio ambiente, mas também colocam em risco a saúde e qualidade de vida das pessoas, especialmente as que estão nas regiões mais afetadas. Períodos como esse também tendem a intensificar o conceito de racismo ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Embora o setor agropecuário seja fundamental para a economia do país, é inegável que as práticas utilizadas têm consequências ambientais graves não só para o meio ambiente como para a população como um todo. O uso inadequado do fogo e a redução de fiscalização ambiental impactam na biodiversidade, equilíbrio ecológico e saúde pública.
O crescimento econômico não pode ser desagregado dos impactos ambientais que acarreta. A população, especialmente, as que estão presente em áreas mais vulneráveis, sofrem e são mais prejudicadas o que reforça padrões socioeconômicos. Por isso, fica claro que o agronegócio precisa repensar sua agenda e formas de atuação.
FONTES BIBLIOGRÁFICAS:
ARCOVERDE, Letícia e CORSALETTE, Conrado. Quais os efeitos para a saúde de respirar um ar tão ruim, 09 setembro 2024. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/podcast/2024/09/09/poluicao-ar-efeitos-na-saude. Acesso em 21 setembro 2024
BENICIO, Monica. As queimadas são um problema de todos nós – Por Monica Benicio: É urgente que os grandes criminosos ambientais sejam devidamente responsabilizados. Forum, [S. l.], p. 1-1, 16 set. 2024. Disponível em: https://revistaforum.com.br/opiniao/2024/9/16/as-queimadas-so-um-problema-de-todos-nos-por-monica-benicio-165669.html. Acesso em: 21 set. 2024.
CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada Departamento de Economia, Administração e Sociologia ESALQ - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz USP - Universidade de São Paulo. PIB do Agronegócio Brasileiro, 11 julho 2024. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx. Acesso em 23 setembro 2024
LEITÃO, Míriam. 'Agronegócio deveria repensar muito profundamente a sua agenda no Congresso', 26 agosto 2024. Disponível em: https://cbn.globoradio.globo.com/media/audio/444260/agronegocio-deveria-repensar-muito-profundamente-s.htm. Acesso em 23 setembro 2024
PODER360. Brasil registra 5.724 focos de incêndio: Amazônia concentra a maior parcela das queimadas, com 49,2%; país teve o pior agosto em 14 anos e começou setembro com 17.976 pontos de fogo. Poder 360, [S. l.], p. 1-1, 5 set. 2024. Disponível em: https://www.poder360.com.br/meio-ambiente/brasil-registra-5-724-focos-de-incendio/. Acesso em: 21 set. 2024.
O Globo. São Paulo é a metrópole com a pior qualidade do ar no mundo pelo terceiro dia seguido, 11 setembro 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/09/11/sao-paulo-tem-a-pior-qualidade-do-ar-do-mundo-pelo-terceiro-dia-seguido.ghtml. Acesso em 21 setembro 2024
VICK, Mariana. O papel do Ministério da Agricultura na crise das queimadas, 19 setembro 2024 Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2024/09/19/crise-das-queimadas-o-papel-do-ministerio-da-agricultura. Acesso em 21 de setembro 2024
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