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Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez, intérpretes da América Latina



Resumo


Gabriel García Márquez e Mario Vargas Llosa viveram uma amizade profunda e intensa, os dois foram uns dos mais importantes escritores do famoso boom latino-americano, movimento literário que resultou em uma ampla divulgação de romancistas, poetas, contistas e ensaístas da América Latina no continente Europeu. Além da amizade forte, ambos contribuíram simultaneamente em suas obras ficcionais, participaram de conferências e até produziram um diálogo sobre o romance na América Latina que posteriormente seria editado e publicado, sob o título “Un diálogo sobre la novela en América Latina”. Vivendo no mesmo período de guerras civis, revoluções e ditaduras, com acontecimentos dinâmicos e complexos influencia as obras dos escritores. Assim, é justamente por isso que os romances que Vargas Llosa e García Márquez contribuem para a interpretação do continente latino-americano.


Palavras-Chaves: Gabriel García. Mário Vargas. Escritores. América Latina.


Mario Vargas Llosa


Mario Vargas Llosa é um dos mais importantes escritores contemporâneos, grande fabulador que trabalhou em temas originais e pertinentes, escrevendo romances históricos e que utilizou de uma realidade concreta para narrar acerca de diversos personagens marcantes. Para além dos escritos históricos, o escritor peruano também se destaca por seus romances de costumes, ensaios políticos e críticas literárias. Nesse sentido, todo seu trabalho corrobora para um entendimento mais profundo e sério no que se refere aos problemas enfrentados pelos países latino-americanos. Mario constituiu grande parte de sua obra no exterior, escreveu muitos de seus grandes romances no continente europeu, portanto, fora do seu país de origem. Sendo assim, para o escritor esse fator foi fundamental para que ele possuísse uma boa clareza de ideias sobre o significado da América Latina e, sobretudo, o que é ser latino-americano.

Romance histórico e de costumes


Um dos livros mais famosos do escritor peruano é “A Festa do Bode”, romance histórico que narra a ditadura do General Rafael Trujillo na República Dominicana, regime extremamente autoritário que, embora seja pouco conhecido e lembrado, foi uma das tiranias mais cruéis da América Latina. Outro romance, que retrata não apenas um momento da América Latina, mas trabalha também questões do continente europeu é “Travessuras da Menina Má”, uma história que busca explicar o amor nas suas múltiplas formas. Sendo assim, a partir desse tema definido, o autor narra acontecimentos e costumes que envolvem política, cultura, economia e literatura em Lima, Paris, Londres e Tóquio, lugares em que se passam a novela. Posto isso, um dos pontos mais interessantes da obra do Mario Vargas Llosa é o fato dela ser majoritariamente realista, este sendo um dos poucos escritores latino-americano que não utilizou tanto do fantástico para contar suas histórias. Tal realismo abundante dos romances de Llosa mostra como a história humana evolui em conjunto com o indivíduo, como a história de um país, de uma revolução, de uma ditadura que impacta na microesfera, ou seja, no cotidiano das pessoas mais simples e comuns.


Gabriel García Márquez


Gabriel García Márquez foi um escritor colombiano que conquistou grande fama ainda em vida, sobretudo após a publicação da sua obra mais famosa “Cem Anos de Solidão”. O autor, que foi apelidado de Gabo, escreveu romances belíssimos, poéticos e que buscavam sobretudo retratar o cotidiano das pessoas que viviam, ou melhor, sobreviviam, nas comarcas latino-americanas. Essas histórias simples muitas vezes eram cobertas com magia e fantasia, as quais não eram irreais para o escritor colombiano, mas muito pelo contrário, se tratavam de histórias verdadeiras e totalmente plausíveis. Justamente por isso, ao ler sua obra muitas vezes aparece situações que por mais fantasiosas que pareçam ser, tem um pé fincado na mais brutal realidade. García Márquez também foi jornalista, trabalho que se orgulhava muito e pelo qual gostaria de ser lembrado.

Cem Anos de Solidão


Cem Anos de Solidão é o romance mais famoso de García Márquez, também umas das histórias mais importantes da América Latina, pois ela é um marco que divide a literatura latino-americana em um antes e depois. Prestigiada não apenas no continente Americano, Cem Anos de Solidão alcançou os quatro pontos do globo, levando histórias de uma América Latina pouco conhecida até então. O romance vai além da metáfora e da fabulação, ele também descreve momentos históricos com precisão, como a fundação de cidades, quando poucos retirantes saem de sua terra natal em busca de novas oportunidades e resolvem fincar raízes em lugares muitas vezes ainda não habitados, portanto, sem uma presença forte e real do Estado, necessitando que os próprios habitantes constituam leis, criem sua economia e edifiquem sua própria organização social. Cem Anos de Solidão também vai narrar a “Guerra dos Mil Dias”, conflito entre liberais e conservadores que ocorreu na Colômbia entre 1899 e 1902. O romance mais famoso do escritor colombiano é uma história que trabalha os mais diversos temas, desde poder e guerras até amor e paixão, temas tão presentes e pertinentes para a América Latina.


Conclusão


Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez são romancistas indispensáveis para uma boa compreensão da condição latino-americana. São histórias que não remetem apenas às questões universais, que estão presentes em qualquer parte do planeta, como a morte, o amor, a paixão, o autoritarismo, mas que também tem uma forte carga de regionalismos, de expressões cotidianas e costumes dos nossos povos, justamente por isso podemos nos enxergar de forma ainda mais profunda lendo “Cem Anos de Solidão”, ou “A Festa do Bode”. Os dois escritores trazem um novo olhar para a América Latina, um olhar de quem vive essa efervescência de acontecimentos, de conflitos, de debates que acontecem nessas comarcas. Para além da história propriamente dita em seus romances, seus trabalhos ensaísticos ou jornalísticos são muito relevantes, sobretudo pela qualidade dos textos e pelo fato dos dois escritores possuírem opiniões divergentes um do outro no aspecto político, isso amplia as perspectivas em relação a um mesmo tema. E possuir uma ampla visão, com diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto é fundamental, principalmente quando o assunto é a América Latina, um espaço cheio de contradições.


Referências bibliográficas


LLOSA, Mario Vargas. “A Festa do Bode”. Editora Schwarcz.1° edição. Rio de Janeiro. 2011.

LLOSA, Mario Vargas. “Travessuras da Menina Má”. Editora Schwarcz. 1° edição. Rio de Janeiro. 2006

LLOSA, Mario Vargas. “Sabres e Utopias”. Editora Schwarcz. 1° edição. 2009.

LLOSA, Mario Vargas. “Peixe na água”. Editora Schwarcz. 1° edição. 1994.

MÁRQUEZ, Gabriel García. “Cem Anos de Solidão”. Editora Record. 116° edição. 2020.

MÁRQUEZ, Gabriel García. “Viver Para Contar”. Editora Record. 11° edição. 2014

MÁRQUEZ, Gabriel García. “O Escândalo do Século”. Editora Record. 2° edição. 2020


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