NOVA CORRIDA ESPACIAL E A MINERAÇÃO EXTRATERRESTRE, ENERGIA E TERRAS RARAS
- Renan Moreira
- 23 de mai.
- 4 min de leitura
Atualizado: 29 de mai.
Palavras-chave: Mineração espacial; Lua; Terras raras; Energia; Corrida espacial.

Após décadas do ser humano ter pisado na lua, surge uma nova corrida espacial que é marcada por interesses tanto econômicos, como energéticos e geopolíticos, que diferem da competição ideológica do século XX. O avanço tecnológico e a crescente demanda por #terras raras e fontes alternativas de energia impulsionam projetos de mineração na Lua e em asteroides. Este pequeno artigo analisa como essas motivações moldam a exploração espacial atual e avalia seus impactos estratégicos no cenário internacional.
A exploração espacial entrou em uma nova fase no século XXI. Ao contrário da corrida espacial da Guerra Fria, o foco atual está em interesses econômicos e estratégicos. A escassez de elementos críticos para a indústria tecnológica, como terras raras, e a busca por fontes energéticas mais limpas e eficientes motivam Estados e empresas a mirar além da Terra. Neste contexto, a Lua e asteroides próximos são vistos como potenciais fontes de recursos essenciais para uma nova corrida espacial e a sustentação da economia global.
Terras Raras e Dependência Estratégica
As terras raras são fundamentais para tecnologias de ponta, como veículos elétricos, painéis solares, celulares, sistemas de defesa e principalmente em Inteligência Artificial. IAs dependem muito de hardware avançado principalmente em GPUs, TPUs e chips de alta capacidade de processamento. À medida que a inteligência artificial vem avançando cada vez mais precisará de terras raras, pois sem esses tipos de matérias não há como construir os componentes necessários para tal. A concentração da produção em países como a China, que domina mais da metade do mercado mundial (cerca de 60%), levanta preocupações geopolíticas. Tal cenário pressiona potências ocidentais como França, Reino Unido e Estados Unidos a buscarem alternativas, incluindo fontes extraterrestres, gerando uma nova fonte de exploração e mineração espacial.
Segundo a MIT Technology Review, todos os 17 elementos de terras raras, com exceção de um, aparecem em uma lista de 50 “materiais essenciais” designados em 2022, o que significa que são economicamente importantes, mas vulneráveis à interrupção do fornecimento.
Potencial Econômico da Lua e dos Asteroides
A Lua possui minerais como tório, urânio, platina e o isótopo hélio-3, com potencial para geração de #energia por fusão nuclear. Possivelmente a fusão nuclear será o futuro energético da humanidade, pois todas as formas de energia que conhecemos, seja solar, eólica, hidrelétrica e entre outras... Todas elas poluem direta ou indiretamente o meio ambiente. Já a fusão nuclear gera uma energia extremamente eficaz, limpa e quase nenhum risco de radioatividade, não causando acidentes como nos casos de Chernobyl (Ucrânia) ou Fukushima no Japão.
Além disso, já se sabe que os asteroides contêm metais preciosos em concentrações até 50 vezes maiores que na crosta terrestre. Empresas como SpaceX e Blue Origin, além de agências como NASA e CNSA, investem em tecnologia de pouso, perfuração e transporte. O Tratado do Espaço Exterior (1967) ainda carece de adaptações para regular essa nova etapa de exploração econômica fora da Terra.
A China por sua vez, foi a primeira a monitorar a Lua com a missão Chang’e-5 (2020): Coletou 1,731 kg de amostras do lado visível da Lua, fornecendo dados sobre a composição do solo lunar. A sonda Chang’e-6 (2024): Foi a primeira missão a trazer amostras do lado oculto da Lua, coletando 1,9 kg de solo lunar da Bacia do Polo Sul-Aitken. As análises dessas amostras revelaram informações sobre a atividade vulcânica e a presença de minerais específicos.
Energia e Geopolítica na Nova Corrida Espacial
A busca por energia limpa, como a fusão nuclear baseada no hélio-3, pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis. Países como EUA, China e Rússia disputam liderança tecnológica e científica no espaço, o que se reflete na formação de blocos espaciais, como os Acordos de Artemis e a Estação Lunar Conjunta Sino-Russa. Essa corrida também destaca o papel crescente de atores privados, que, com incentivos estatais, aceleram a transição para uma economia espacial.
A mineração espacial não é apenas um projeto futurista, mas uma estratégia montada no presente e concreta para lidar com os desafios energéticos e minerais enfrentados pelo planeta. A Lua e os asteroides próximos oferecem oportunidades para suprir a demanda global por elementos críticos, materiais raros e energia limpa para o planeta. E nesse aspecto, empresas privadas estão tão envolvidas quanto estatais como NASA, CNSA e afins. Empresas privadas como Interlune (EUA), Planetary Resources (EUA), Deep Space Industries (EUA), Origin Space (China), Asteroid Mining Corporation (Reino Unido) entre outras, estão desenvolvendo técnicas e robôs para mineração espacial.
O ponto de discussão já não é mais se vai acontecer e sim quando, quando irão começar a exploração. Algumas dessas empresas estariam até planejando para 2030, e será que assim como os recursos do planeta terra estão sendo ou já tomados por empresas privadas, o espaço pode seguir no mesmo caminho, visto que grande parte das empresas que estão à frente nesse setor são privados. Antes mesmo de começar, o espaço já está sendo “dividido” e tornando-se uma guerra comercial.
Portanto, é urgente criar normas internacionais que garantam um uso pacífico, sustentável e justo desses recursos, pois senão, o espaço em futuro próximo pode vir a se tornar algo privado.
Referências Bibliográficas
Wandekokem, Rafael Sartório. Hélio-3 Lunar: O Potencial Cósmico para a Energia do Futuro. Instituto Federal do Espírito Santo, 2024. Disponível em: https://repositorio.ifes.edu.br/handle/123456789/5535.Repositório IFES
Suzuki, Akira. "China vai 'minerar' hélio-3 da Lua para fusão nuclear." TecMundo, 2015. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/exploracao-espacial/73185-china-minerar-helio-3-lua-fusao-nuclear.htm.TecMundo
"A corrida pelos 'minerais do futuro' que podem pôr em risco segurança nacional." BBC News Brasil, 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-61175455.BBC+1Revista ESG+1
"A corrida para produzir materiais de terras raras." MIT Technology Review Brasil, 2023. Disponível em: https://mittechreview.com.br/a-corrida-para-produzir-materiais-de-terras-raras/.MIT Technology Review - Brasil
"Chegada do homem à Lua, 55 anos: Mineração espacial promete ser o 'grande salto' na nova era de exploração do universo." O Globo, 2024. Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/noticia/2024/07/22/chegada-do-homem-a-lua-55-anos-mineracao-espacial-promete-ser-o-grande-salto-na-nova-era-de-exploracao-do-universo.ghtml.O GLOBO
"Mineração espacial aparece como alternativa futura, mas processo é caro e complexo." Jornal da USP, 2023. Disponível em: [https://jornal.usp.br/radio-usp/mineracao-espacial-aparece
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