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Nova Zelândia sofre com o crescimento da influência do Estado Islâmico


Muçulmanos protestam em ato de condenação a ataque a mesquitas na Nova Zelândia, após orações de sexta-feira em Mesquita de Bangladesh (Mohammad Ponir Hossain/Reuters)


Resumo


O presente artigo analisa a expansão da influência do Estado Islâmico ao redor do mundo nos últimos anos, abordando os recentes ataques “terroristas” que ocorreram na Nova Zelândia, país famoso pela sua segurança pública, que vem sofrendo com ações extremistas de indivíduos aliados ao Estado Islâmico.



Introdução


A Nova Zelândia é um país mundialmente reconhecido pela sua qualidade de vida e segurança pública, entretanto, com a expansão da influência de movimentos de extrema-direita pelo globo, até mesmo essa pacífica nação tem sofrido com os ataques violentos organizados por extremistas.

Desde 2019, três ataques com números significativos de vítimas foram registrados e o governo neozelandês vem criando medidas preventivas para proteger a população e erradicar os atentados no país.

O presente artigo aborda o Estado Islâmico, grupo extremista que estava relacionado com os atentados realizados na Nova Zelândia, elucidando sua origem, propósito e os elementos que foram responsáveis por expandir sua influência ao redor do mundo nos últimos anos.

Além disso, investiga-se como o ataque as mesquitas de Chistchurch foi crucial para o monitoramento do problema de segurança pública enfrentado pelo governo neozelandês, comentando o recente ataque no supermercado de Auckland e analisando a diferença na proporção dos atentados e as ações fundamentais para a redução de danos causados.



Estado Islâmico e o crescimento da sua influência pelo mundo


Surgindo em 2013 como uma vertente reorganizada de membros da Al-Qaeda, o Estado Islâmico (Isis) vem expandindo suas zonas de influência para além do território iraquiano e sírio, ultrapassando fronteiras, e despertando o interesse de militantes ao redor do Mundo que compactuam com a sua ideologia e se unem a causa recebendo apoio financeiro para realizar ataques violentos em nome do grupo.

Compreender os conflitos que assolam o Oriente Médio demanda um estudo aprofundado da região e uma visão que ultrapasse o senso comum ocidental, responsável por limitar e estigmatizar os desafios enfrentados pelo oriente. Isto porque, a região em questão enfrenta conflitos externos e internos, simultaneamente, porém, buscar entender a situação tem sido imprescindível para lidar com a influência da condição política islâmica no cenário internacional.

O processo de criação do Estado Islâmico não foi repentino e não pode ser atribuído à um evento especifico, pois foi fruto de anos de planejamento e uma cadeia de eventos que somavam justificativas para a sua formação. A morte de Osama Bin Laden, por exemplo, foi um dos eventos cruciais para a iniciativa, pois o assassinato desta figura emblemática abalou a estrutura da Al-Qaeda, embora ela ainda permanecesse ativa.

Foi da Al-Qaeda firmada no Iraque que uma nova vertente islâmica começou a se formar através do “Xeque Invisível”, Abu Bakr al-Baghdadi. O religioso fundou o movimento Jihadista (responsável por promover a “guerra santa” entre os mulçumanos) e ocupou diversos cargos de liderança na Al-Qaeda até que em 2013, com a morte do líder da organização Abu Musab al-Zarqawi, Baghdadi assumiu o comando e implementou mudanças radicais motivadas pela guerra civil enfrentada pela Síria no mesmo período. Sendo essa a principal diferença entre a Al-Qaeda e o recém intitulado Estado Islâmico, dado que este último lutaria pela causa regional não só do Iraque, como também da Síria (BBC NEWS, 2021).

Por sua vez, a Al-Qaeda recriminava o Isis por não compactuar com a causa de regionalização, que desrespeita a fronteira entre Iraque e Síria, discordar do assassinato cometido contra muçulmanos e a tortura destinada aqueles que fossem contra o Islã. Ainda assim, o crescimento da influência do Estado Islâmico foi acelerado e, já em 2014, apenas um ano após a sua criação, o grupo era reconhecido pelo comando da militância islamista internacional, superando a Al-Qaeda (BBC NEWS, 2021).

Em relação à sua influência internacional, destacam-se os massacres que desde 2014 vem ocorrendo fora do território oriental. O Isis, além de se beneficiar economicamente da condição conflituosa na Síria, ainda acumula riquezas provenientes de tomadas de poder, como a apreensão de Mosul, onde a invasão ao banco central iraquiano somou US$500 milhões ao movimento. Além disso, cobra-se impostos das populações dominadas, roubam-se peças valiosas dos Museus e comercializam petróleo clandestinamente.

Ou seja, o Estado Islâmico conta com recursos financeiros exorbitantes e uma vasta coleção de propagandas na internet, capazes de agregar estrangeiros dispostos a atuar em seu nome pelo mundo a fora. Em 2018, a CNN fez um levantamento de dados revelando que desde 2014 o Isis havia realizado ou inspirado 143 atentados, em 29 países, deixando 2.043 mortos, ultrapassando a Al-Qaeda e assumindo seu posto como a maior patrocinadora de ataques terroristas pelo Mundo.



Nova Zelândia como alvo dos atentados terroristas


A Nova Zelândia, país que desde 2017 vem sendo gerido pela Primeira-ministra Jacinda Ardern, já provou ser uma nação que preza pela precaução de incidentes que possam ameaçar a sua população. Em reconhecimento à tal postura defensiva ressalva-se que, desde 2019, o país está em alerta para ataques terroristas, devido ao ataque nas mesquitas de Christchurch onde um atirador matou 51 pessoas em nome da causa islâmica.

Em março de 2019, a Nova Zelândia passou pelo ataque mais violento da sua história, quando Brenton Tarrant, um australiano de 28 anos movido por ideologias de extrema-direita, abriu fogo contra muçulmanos de duas mesquitas localizadas na cidade de Christchurch. O evento chama a atenção em diversos aspectos, entretanto, destaca-se neste artigo o fato do atirador ter promovido uma live ao vivo em suas redes sociais durante o ataque, além de ter deixado um manifesto de 74 páginas relatando suas motivações para o massacre.

Os fatos listados são ressaltados devido a evidente necessidade do atirador de chamar atenção para a causa de extrema-direita através das suas atitudes, em depoimentos, após a sua prisão, Tarrant ainda admitiu ter envolvimento com representantes do Estado islâmico em território Europeu que o auxiliaram na elaboração do ataque contra os muçulmanos.

Desde então, o país entrou em estado de alerta e passou a monitorar os agentes de risco, além de estabelecer medidas restritivas em relação à disponibilidade de armamentos para cidadãos civis. No entanto, a atenção dada ao caso não foi o bastante para erradicar os ataques, já que em maio do mesmo ano quatro pessoas foram esfaqueadas em um supermercado em Dunedin.

No dia 3 de setembro de 2021, um homem foi morto pela polícia após iniciar um ataque em um supermercado de Auckland onde esfaqueou 6 inocentes repentinamente. Testemunhas relatam que o extremista pegou uma faca que estava na vitrine e partiu para o ataque contra os inocentes que foi encontrando pelo caminho.

O ataque durou 60 segundos, pois o indivíduo era um suspeito proveniente de Sri Lanka que vivia na Nova Zelândia há 10 anos e estava sendo monitorado pela autoridade local nos últimos 5 anos por ligações com o Estado Islâmico. De forma que, os agentes que o estavam acompanhando disfarçadamente puderam intervir rapidamente e minimizar os danos do ataque (G1, 2021).

Dado o histórico do agressor o caso foi imediatamente classificado como um atentado terrorista, Jacinda Ardern se pronunciou em solidariedade às vítimas do ataque e acrescentou que o incidente foi odioso, porém foi realizado por um indivíduo, não por uma fé, cultura ou etnia, pois apenas o agressor carrega a responsabilidade por seus atos (G1, 2021).

Ainda que em países cuja taxa de violência seja alta os casos listados não sejam chocantes, na Oceania os eventos foram considerados sem precedentes. Estima-se que na Nova Zelândia entre 2008 e 2018 foram registrados no país 154 homicídios envolvendo armas de fogo, segundo um balanço divulgado pela polícia local em 2019 (G1, 2021).



Conclusão


Embora os conflitos no Oriente Médio sejam complexos e constantemente intensificados pelas intervenções ocidentais, como já foi comprovado através das consequências que a “ajuda humanitária” dos Estados Unidos, Reino Unido e Rússia trouxeram para a região, a expansão da influência dos grupos extremistas mundo afora tem exigido medidas de segurança internacional cada vez mais preventivas.

Desde 2014, ataques em nome do Estado Islâmico têm sido registrados em países da África, Europa e América do Norte, causando preocupação em escala global e repercutindo de maneira negativa através do preconceito que vem se intensificando nessas regiões contra imigrantes orientais.

Os reflexos da ideologia de extrema-direita vivenciados na Nova Zelândia chamaram atenção não só pela proporção do massacre de 2019, em Christchurch, responsável por dizimar 51 inocentes, mas também pela reincidência do evento em um curto espaço de tempo e em meio a tantas medidas de precaução tomadas pelo governo local.

Após o ataque de Christchurch, que foi realizado com diversos armamentos automáticos, o governo havia limitado o acesso e restringido a compra de armas de fogo em todo o país, além de monitorar os possíveis suspeitos que estariam vinculados a grupos extremistas de alguma maneira.

Entretanto, ainda assim ataques com armas brancas foram realizados, comprovando que os movimentos por trás das ações criminosas permanecem influentes e ativos em territórios que estão monitorando o problema.



Referências Bibliográficas


BBC NEWS. Estado Islâmico: como grupo surgiu do caos de guerras para aterrorizar o mundo. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-55379503 . Acesso em: 10 set. 2021.


EL PAÍS. Nova Zelândia proíbe venda de armas de assalto e semiautomáticas depois do atentado de Christchurch. Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/21/internacional/1553134709_306129.html. Acesso em: 10 set. 2021.


EURONEWS. Polícia neo-zelandesa investiga local do atentado. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/09/04/policia-neo-zelandesa-investiga-local-do-atentado . Acesso em: 10 set. 2021.


EURONEWS. Seis feridos em ataque "terrorista" em Auckland. Disponível em: https://pt.euronews.com/2021/09/03/seis-feridos-em-ataque-terrorista-em-auckland . Acesso em: 10 set. 2021.


GLOBO. Ataques a duas mesquitas deixam 50 mortos na Nova Zelândia. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/03/14/policia-e-acionada-apos-relatos-de-tiros-em-mesquita-na-nova-zelandia.ghtml . Acesso em: 10 set. 2021.


GLOBO. Homem esfaqueia pessoas em supermercado na Nova Zelândia. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/05/10/homem-esfaqueia-pessoas-em-supermercado-na-nova-zelandia.ghtml . Acesso em: 10 set. 2021.


GLOBO. Homem é morto pela polícia após ataque terrorista na Nova Zelândia. Disponível em: https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/09/03/homem-e-morto-pela-policia-apos-atacar-e-esfaquear-clientes-em-supermercado-na-nova-zelandia.ghtml . Acesso em: 10 set. 2021.


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